segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Papel

A mulher da rua se virou. E olhou pra mim
Disse meu nome é Marialva. E eu disse sim
Falou que a rua é fria, que a gente se perde
E completou: me segue, que assim você se acha
Me levou pra um hotel barato, na mesma rua
Cheirando gente nua, cândida e naftalina
Sentou na cama e pediu um beijo e deitou
Me disse: vem em cima. Me disse: me domina
Eu não fui e ela sentou, na cama, na calma
Pediu: tira minha blusa. Eu tirei. E ela disse
Me abusa. Não abusei. Não quis mais nada
Ela gritou, esperneou, perdeu a linha
Eu gritei, sua puta, galinha, vaca, vadia
Bati a porta, sai pra rua, a mesma rua
Aquela rua é minha. E quem ela acha que é
Pra querer uivar comigo, em pleno dia
Sendo que em casa tenho um amor
Uma taça de vinho. Um disco de Noel
Um retrato do meu cão
Todo açúcar e todo o fel
Pra ser feliz, rir, chorar, gozar
Minuto a minuto. Na vida. No papel