segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Papel

A mulher da rua se virou. E olhou pra mim
Disse meu nome é Marialva. E eu disse sim
Falou que a rua é fria, que a gente se perde
E completou: me segue, que assim você se acha
Me levou pra um hotel barato, na mesma rua
Cheirando gente nua, cândida e naftalina
Sentou na cama e pediu um beijo e deitou
Me disse: vem em cima. Me disse: me domina
Eu não fui e ela sentou, na cama, na calma
Pediu: tira minha blusa. Eu tirei. E ela disse
Me abusa. Não abusei. Não quis mais nada
Ela gritou, esperneou, perdeu a linha
Eu gritei, sua puta, galinha, vaca, vadia
Bati a porta, sai pra rua, a mesma rua
Aquela rua é minha. E quem ela acha que é
Pra querer uivar comigo, em pleno dia
Sendo que em casa tenho um amor
Uma taça de vinho. Um disco de Noel
Um retrato do meu cão
Todo açúcar e todo o fel
Pra ser feliz, rir, chorar, gozar
Minuto a minuto. Na vida. No papel

domingo, 29 de novembro de 2009

Banho-maria

A vida não pode ser apenas uma noite sem fim num posto, tomando cerveja e cantando?

Ou uma festa numa cobertura, regada a champanhe e música boa?

A vida não pode ser apenas uma balada escura e cheia de cantos num lugar novo para gente nova?

Ou um almoço ao Sol, na beira do rio, comendo peixe e tomando cerveja gelada?

A vida não pode ser uma viagem para uma praia paradisíaca com caminhadas sem hora para terminar?

Ou um plano de se perder do mundo achando todo o resto?

A vida não pode porque a vida é a vida, um misto de tudo de bom e ruim.

Ou um caldo de tudo que vai sobrando, temperado com mais sal que açúcar.

E que vai cozinhando em banho-maria.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aqui

Shangri-la
Aqui, sangue
E merda
Alguém ri?

Telefone

Toca telefone toca Telefone toca toca Telefone toca telefone Toca toca telefone Sai da toca Se toca Toca, telefone Trim trim pra mim Trim pra mim trim Trim trim pra mim Trim vai trim Porra Toca porra toca Toca telefone toca Toca porra porra Trim toca telefone Toca porra trim Trim pra mim Porra

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A mulher mais linda do mundo

Hoje, no bar, me apaixonei
Pela mulher mais linda do mundo
Ela vestia todo branco
E sorria seu olhar brilhante
E ela bebia e cantava e viva!
Eu, na minha fossa, só olhava
Cada vez que aqueles olhos
Iam atender uma ligação
Fora da mesa, eu pensava:
“Filho da puta que está ligando,
deixa ela aqui pra mim”
Então a madrugada entrou
Bebemos mais e mais
E bem pro final ela levantou
Chamou um puto pra dançar
E cantar aquela canção
Eu sabia, caralho, eu conhecia
Levantei pra pagar a conta
E olhei aquele corpo bailando
Passei pela porta e esbarrei
Nos olhamos e ela me puxou
Disse: “Vem dançar comigo”
Estávamos no meio da rua
A cantar aquela canção
Eu sabia, caralho, eu conhecia
E cantei todo meu espanhol
Naquele ouvido iluminado
Depois, pensamos juntos:
Hoje vamos ficar aqui
E ficamos, até amanhecer
Até anoitecer novamente
Até amanhecer outra vez

Eu, sem fossa alguma
Com a mulher mais linda do mundo

segunda-feira, 6 de abril de 2009

É bom saber

É bom saber que a vida segue o curso
Que o soluço para e a lágrima seca

É bom saber que as cores voltam
Que ainda há sabor, ainda há gosto

É bom saber que você já dorme
Que acorda cedo e também sorri

É bom saber que você caminha
Que andando sua, suando sonha

É bom saber que você cresceu
Que a dor que lhe causei serviu

E é bom saber que eu cresci
Que minha trilha solitária serviu

E é bom imaginar você à noite
Que meu pensamento me liberta

E é bom imaginar você de dia
Que sua presença me conforta

E é bom você saber que a vida segue
E que isso aqui será sempre sua casa

domingo, 5 de abril de 2009

Você achará

Você achará outro homem
Eu acharei outra mulher
Mas diz, esse amor, isso tudo
Haverá de se reconstruir
Ou ficaremos nós tentando
Criar um meio para viver
Um meio só pra reescrever
Sim, houve dor, houve sim
Houve amor, e ele há
Então, deixe estar
Mas sabemos como é
Viver a dor implica em mudar
Aceitar o amor é continuar
Cabe a cada um aceitar
Retomar para reinventar
Ou simplesmente trocar
E o mundo dirá o que virá

E se esse amor reinará

sábado, 4 de abril de 2009

Infinito

Vem agora
Que agora ainda existo
Que depois
Depois sobra o mito
Que daí
Daí será o infinito
E infinito, meu bem
Só o amor que sinto

domingo, 29 de março de 2009

E a gente?

Nunca doeu tanto, nunca
Uma dor foi tão latente
Eu que achava - inocente -
Que havia sofrido, havia
Que havia estado doente
Mas tanto de ti nessa casa
Afunda o peito, dormente
Porque tudo que seria
Pra sempre virou nada
E segue a vida, ela gira
Gira o mundo, gira a mente
Mas e a gente?
E a gente?

domingo, 22 de março de 2009

Vontade

Se eu me deixar levar
Será que vai dar?
E se eu não deixar
A dor vai continuar?
Se for pra ser assim
Deixo nesse instante
O mundo cair

Em mim, e há de vir
Quem sabe, amanhã
De novo, vontade

quinta-feira, 19 de março de 2009

Um desatino

Se eu pudesse ser o que querem
Seria uma canção de Roberto
Com o amor vencendo enfim
Seria um samba de Noel
Num romance de botequim
Ou um poema de Vinicius
Sem porre, sem folhetim

Ou poderia ser uma pausa
Uma pausa
Uma pausa
Uma...
... pausa

Se eu pudesse ser o que querem
Seria o respiro de uma valsa
O acorde em que se cala
Ou então uma cena forte
Com cheiro de adrenalina
O momento em que termina
Toda tela apaixonada

Ou poderia ser um nada
Um nada
Um nada
Um...
... nada

Se eu pudesse ser o que querem
... mas sou isso, a pausa e o nada
O vento alimentando brasa

Se eu pudesse ser o que quero
... sendo isso, um desatino
Aceito o que traz o destino

sexta-feira, 13 de março de 2009

Próximo capítulo

Antes de sair de casa eu li
Um capítulo daquela porra de livro incompreensível
E fiquei pensando que eu não entendo nada
De nada, uma merda
Aí, durante o dia, vi um sujeito
Fingido ridículo e asqueroso
Uma bicha afetada e carente
Com seu tipinho sujo e fedendo a sexo
E uma mulher vulgar e gostosa
Que era o cúmulo da vulgaridade
Parei no bar com essa gente da cabeça
E com o livro, incompreensível
Em casa, vem você e diz que não me entende
Não entendo nada também
Porra. Lembrei do livro
Não entender até que é bom
Vou para o próximo capítulo

segunda-feira, 2 de março de 2009

Antídoto

(Meu anti, meu tudo)

Contra o que sempre quis
Nunca o que sonhei e
Tudo o que me fez é seu

(Meu canto, meu nada)

Voraz, devora o mundo
E agora voa, rápido
Assim lhe passa o peso

(Meu bem, meu mal)

Você é o meu lado
Mais puto, mais animal
Mais louco e irracional

(Antídoto verdadeiro)

Para todas as dores
A calma e a latejante
Cura mesma e verdadeira

(Antítese total)

Somos isso / Cerveja e sangue
Riso e choro / Bem natural, afinal
Mas que findou / E findou mal

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Amar

Amar incondicionalmente
É perder a vírgula,
O ponto, o parêntese
É saber que a dor que dói
Não é tão pungente
E que estando só
Já se está com a gente
Haja frio, haja calor
Haja riso, haja pavor
Até mesmo sem vontade
Esquece-se a novidade
Vive-se para o outro
Vive-se cada dia novo
O futuro é um presente

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Uma ilha

E você, por que
Não me liga?
E eu, por que
Não te digo
Simplesmente
O que sou mesmo...

Ilhado
Sem praia
Sem Sol
Sem areia

Eu e Deus
Uma ilha
Eu e Deus
Ligados
Esperando
Talvez
Você chegar
Sem adeus
Sem oi, sem
Nós nem Deus

domingo, 18 de janeiro de 2009

Muito melhor

Ela estava linda e já foi chegando
E falando: eu não me visto assim
Porra, que péssima notícia
Eu queria assim sempre. Mas ok
Ela tem uma boca carnuda, cheiro bom
Mas fica olhando se eu bebo muito
Ela é um tesão, mas fica olhando
Então eu prefiro meu canto
E depois, quando ela se aproxima
Perguntando: não vem aqui não
Eu digo que nem por um caralho
Porque o tempo vai deixar
Aqueles peitinhos uma bosta
E esse mesmo tempo deixará
Meu vinho muito melhor

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um gosto

Ele disse: "Mais vale um gosto que um desgosto"
E eu respondi: "Porra, tá difícil hoje, meu irmão"
Mas no fundo é isso. Ele é um fodido e sabe viver
E eu sou isso. E vivo pra me foder bem fundo

domingo, 4 de janeiro de 2009

Soneto ao vento

Por eu ser assim, eloquente
Por meu beijo ser quente
Você pensa que seremos assim
Que seremos, talvez, serenos

Não se engane, meu bem
Pois sei bem o que sou
Minha propaganda é vaga
Minha promessa vale nada

Então, ao se sentir morrendo
Lembre-se de respirar
Pense que somos puro ar

Então, se quiser gritar
Lembre-se de estar vivendo
Que eu, anjo, sou puro vento