domingo, 7 de dezembro de 2008

Pânico

De repente isso
Que chega sem mais nem menos
Que dói no peito, na garganta
Que seca a boca, deixa tonto
Que falta o ar, que falta o chão
Toda a certeza de morte está aqui
Toda a certeza de morrer

Mas não, agora eu sei que não
Ainda assim eu sinto tudo
Sozinho, dói mais, mas
Não posso evitar os lugares
Ontem saí e foi horrível
Aquele monte de gente
Falando, rindo, fedendo

Minha casa também aperta
À noite tentei ver algo na TV
Uma falta de ar não deixou
Eu tô tentando lutar
Eu não posso me isolar
Eu não posso me entregar
E tudo parece um filme

Para dormir, sublingual
Para acordar, a luz
Para viver, sabe lá

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Tenho a Lua

Minha cama é uma imensidão
Nela cabe um mundo, mas está vazia
Vazia e fria e enorme e fria e vazia
Pensando bem, melhor assim
Tenho espaço pra esticar minhas pernas
Pra rolar, pra me virar como quiser
Se quiser até derrubo vinho nela

Derrubo em mim, no cachorro
Ele bebe vinho, mesmo, gosta também
Se quiser, derrubo a cama no chão
E venho pro chão e vinho no chão
Foda-se, foda-me também, aceito
O molhado sou eu, o quente também
Tudo em mim, de olho na Lua
Tenho eu, tenho a Lua, uma só
Logo o dia nasce e eu durmo
Durmo mesmo, longamente

Com a Lua a meus pés

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Rotina

A primeira coisa que faço
Ao acordar é olhar minha barriga
Ver o quanto ela vai crescendo, crescendo
Analisar o umbigo, os pentelhos
Eles sempre escapam da cueca
Sentir o acúmulo de gases da noite anterior
Depois, gosto de arrotar, arrotar
Tomar um grande gole d'água
Coçar os bagos, esticar as pernas
E peidar forte. Sim, bem forte
Não necessariamente nessa ordem, mas isso
Entende por que eu prefiro mandá-las sair às 5?

domingo, 23 de novembro de 2008

Esse alguém

Se eu fosse esse alguém
Que mora aqui agora
E não te rejeitasse
Alguém que só amasse, sem questionar
Como um tesouro, uma jóia rara
Um eterno rir sobre o tapete, no som
Ouvindo, cantando, sendo nós
No quintal, pulando, gritando
Se eu fosse esse alguém
Seria o que mora aqui agora
Doído, solo e rejeitado

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Viver pra achar

Viver pra achar
É uma busca ilimitada
E cheia de esperança

Morrer sem achar
É o limite da busca
E o fim da esperança

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Diálogo das 4h15

Diálogo das 4h15. Eu e ela. Só sobramos nós.

"Fica tudo meio turvo, não fica?", digo.
"É a bebida."
"Será? Pode ser coração batendo."
"Não, é a bebida, vai por mim."

Um gole, outro, uma volta e voltamos.

"Tô ficando tonta. Bebi demais."
"Não, é o coração", digo.
"Será? Pode ser bebida."
"Não, é o coração, vai por mim."

Um gole, outro, um beijo, outro, outro, quase caímos, voltamos.

"Tá tudo meio turvo", ela diz.
"É, tá tudo meio turvo."
"Nosso coração?"
"Não, é a bebida."

E caímos.

Estando sóbria

Eu desapareço por fraqueza,
Por não saber o que dizer,
Por deixar mostrar que no fundo eu estou
Carente e só e bêbado e muito
Então, confesso: admiro essa força
De desaparecer completamente
Estando sóbria e sã absoluta
Eu não agüentaria e isso
Só aumenta a admiração
Que eu sinto por você
Ok, dá um pouco de inveja
Por você se fingir tão bem de morta

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Cara, e agora?*

Cara, me diz, e agora?

Era você a referência velada
O adulto admirado, tipo ideal
Estilo moderno pra quem era novo
Cerveja, praia, coisa e tal

Cara, me diz, e agora?

Você foi dessa, meu irmão
Você seguiu, simples, o andor
Partiu, deixou um monte aqui
E a gente ainda queria calor

Mas cara, me diz, tá legal?

Porque eu acho que sim
Porque, sabe, eu também canso
E eu, quem sabe, por mim
Também pedia um descanso

Então, cara, meu guia
Minha espécie de chapa
Relaxa com essa sangria

Porque, cara, é verdade
Voa, voa, voa alto
Isso agora é liberdade

* Cada palavra, cada vírgula, cada tentativa de rima aqui é dedicada a Evaldo Apolonio. Muita saudade.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Uma gigante interrogação

Porque gostava de correr na rua,
Sozinho, imaginando coisas
Porque fazia quilômetros
Ia ultrapassando as dunas
Como se fossem obstáculos
Ia cruzando com as gentes
Pensando o que cada uma fazia

Porque a cabeça já não parava
Ao meio-dia, sem proteção
Porque se era mesmo, então seria
Um suicídio lento e doloroso
Num mundo que virara massa
Podre, misto de sexo e de lixo
Uma gigante interrogação

Era aquela coisa amargurada de ficar pensando que se podia ter feito algo que nunca se fez. E era um puta sentimento de solidão. Um puta sentimento

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Me olha

Fico aqui pensando:
Onde devemos ir?
Até quando?
Quanto?
Será de nós?
Me olha
Me olha
Me olha de novo
Ninguém sabe
O mundo não tem jeito, tem?
Me olha
Me olha
Me olha e devora
Se eu sei?
Eu semprei tentei
Minha última taça
Minha última graça
Meu troféu
Sempre amanhece
Sempre anoitece depois
Hoje, meu mundo
Amanhã será seu?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O corno de óculos

Estávamos no bar desde o final daquela tarde. E já era noite corrida. A mesa, grande, havia decidido jogar palitinhos. Coisa de boteco. Quem perdesse pagava uma dose. Tínhamos uma pilha de copos na mesa quando, naquela nuvem que o torpor alcoólico cria, vi aquela morena me olhando. Olhando nos olhos. Incrível: ela estava numa mesa minúscula com o namorado/marido flertando descaradamente. Puta. E que puta. Cutuquei Renan, meu amigo sentado à direita.

"Bicho, eu tô muito louco ou aquela putaça quer jogo?"
"Sim, ela quer."
"Mas que puta", falei, vidrado nos olhos dela.

Não passaram cinco minutos e ela, com um decote generoso,veio pedir cigarro a um dos rapazes da mesa. Acendeu, tragou, soltou a fumaça e disse que queria jogar. Sim, queria mesmo. E com o maridão bebericando um treco qualquer na mesa ao lado. Dispensável dizer que palitinho, o jogo mesmo, não teve mais. Eram nove caras cobiçando sem rodeios a mulher do próximo. Bem próximo. Ele dava um gole, olhava para baixo com aqueles óculos totalmente fora de moda. Corno. Quando ela, empolgada e excitada, era explítica demais em um comentário, o cornão limitava-se a dizer. "Não ligue, a Mila é brincalhona mesmo."

Alta madrugada, o jogo terminou. Aquele, ao menos. Todos foram juntos para a porta, inclusive a puta e o otário - que mancava um pouco e se apoiava nas cadeiras. Despedidas rápidas e ficamos eu, Renan - que passaria a noite em casa -, Mila e o corno.

"Você moram longe?", disse ela.
"Não, logo ali. Cinco minutos a pé", respondi.
"Ah, o que é isso. Tá muito tarde. Nós daremos carona pra vocês."
"Não precisa, vá com seu homem pra casa."
"Vou, mas antes levaremos vocês."

Ela dirigindo. Ele quieto do lado. Na porta da casa, rolou aquele papo de bebum, de saideira. E nós quatro entramos. Ok, ela era bem gostosa, isso contribuiu. Seriam mais alguns minutos de marturbação visual. Nas barbas do mané.

Fui pegar as cervejas e ela veio atrás. Disco do Chico rolando na sala, maior climão de fim de noite. Marido no sofá, falando sobre música com o Renan. E, na cozinha, ela esqueceu a bebida e começou a lamber meu pescoço, a se esfregar em mim.

"Louca, olha seu marido ali."
"Ele é um gênio, um professor universitário. Mas, que tipo de idiota é você que não percebeu que ele não enxerga direito. Não viu que ele anda se apoiando?"

Realmente, agora aqueles óculos estranhos faziam algum sentido, pensei, enquanto ela mexia nas minhas calças. Ficamos nesse joguinho sala/cozinha por mais uma hora. Até que não agüentei.

"Você vem para o quarto agora que eu vou te foder toda."
"Vai é? hum..."

Subimos. Na cama, quase nus, ela agarra meu pau, como se fosse um microfone: "Só uma coisa, neném, ninguém é bobo aqui. Meu marido tem de subir. Tem de estar aqui com a gente. Esse é o lance. Nosso lance."

Meu sangue subiu. Virei um soco nos beiços da putaça. Fiz com que ela se vestisse em dois segundos. Voei para a sala e, ofegante ainda, descarreguei. "Vocês dois, filhos da puta, vadios de merda. Pra puta que os pariu. Fora!" Renan, assustado, deu um gole na cerveja e viu o casal sair. Voltei à sala, abri uma gelada e troquei o som.

"Escapei, bicho..."
"O que houve?", disse Renan.
"Porra, o lance era eu comer a mulher do cara nas fuças dele. Ela disse que ele queria olhar tudo."
"Babaca! Devia ter comido."

Fechei o rosto. Fui para o quarto. Não queria brigar com meu amigo. Até porque ele nem havia percebido que o cornão para quase cego. E cego, meu caro, só enxerga passando a mão.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Dobro

Sempre que me vem à cabeça entender
Nem ligo: a mim, nem eu nem ninguém

Sempre que eu tento compreender
Todo o mundo me diz, vá cagar

Então eu melhoro, eu me dobro
E a quem interessar, eu digo


Dou em dobro

domingo, 10 de agosto de 2008

Minha gente

Quantas vezes eu disse que amo vocês?
Quando criança, talvez
Alguma vez?
Pois existe essa carapaça
Essa máscara que não passa
Uma espécie de casca
Que insiste em existir

Aqui, eu existo também
E não pensem, minhas razões
Que alguma vez, qualquer
Eu deixei de ser vocês
Que alguma vez eu deixei
Porque eu não deixo...
Nunca deixo...

Então, vejamos bem
Sintam minha voz no topo
Sim, eu amo vocês
Do jeito que eu sei dizer
Do jeito que eu sei viver
Com esse amor
Mesmo de longe, mas latente

Mãe, pai, avô, avó, Rafa
Com tudo isso que se sente
Meu sangue, minha gente

domingo, 1 de junho de 2008

Misantropicamente

Relax e ódio no coração
Para um mundo melhor
Porque não adianta nada
Nada, absolutamente
Estar tranqüilo e achar
Que a humanidade é boa
A humanidade não é legal
E nada a ver o papo
De que o ódio faz mal
Faz mal pastar pela vida
Faz mal esse papel social
Então, respire fundo
Mantra e sangue na venta
E viva bem. Relaxe
Misantropicamente

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Canção de ninar

Quero que você chegue
Sabendo que meu amor
Será todo seu, pequena

Quero olhar seu rosto
E esperar amanhecer
Com você aqui, serena

E se, por acaso, você chorar...

Estarei sempre aqui pra te ninar
Estarei sempre aqui pra te ninar

Quero sentir sua pele
A roçar minha barba
Espessa, me cresça

Quero me ver passar
No seu olhar, mirando

A inocência, não cresça

E se, por acaso, você chorar...

Estarei sempre aqui pra te ninar
Estarei sempre aqui pra te ninar

Dorme, neném
Dorme, neném
Que o tempo é todo seu
Meu bem

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Vim do Verão

Então, de repente, nem sei quando
Vi que parei de chorar
Esfreguei meus cabelos brancos
Alisei meus olhos santos
Notei que o que era pra ser
Estava lá

Então, de repente, nem sei quando
Descobri...
A vida inteira, quando jovem
Lutamos para ser Verão
O corpo exposto, o riso solto
A alma e todo o coração vão
Mas o Verão, como se sabe
Tem suas muitas águas
Abundantes, fortes, desvairadas
E o Verão, meu caro, o Verão me passa

Então, de repente, nem sei quando
Me cobri...
E vi que eu já era Inverno
Pois sou frio, sou forte, sou Norte
Mostro só o que se deve
Rio só quando me serve
Como todo Inverno, seco
Ninguém vê a chuvarada
Pouco choro minhas mágoas
O Inverno, meu caro, o Inverno me serve

Então, de repente, nem sei quando
Com meus brancos cabelos de neve
Com minhas rugas, rusgas de leve
Sinto o Sol ofuscar, lindamente
A vista dos que vêm do Verão

sábado, 8 de março de 2008

Xuxa

A quem interessar possa: estou baixando a íntegra do clássico "Amor Estranho Amor". Eu, que sempre odiei a Xuxa, darei a ela 90 minutos para me fazer mudar de opinião.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A morte

Pedro conversa com um amigo do Globo:
"Porra, ficou sabendo que o Ricardo morreu?"
"Que Ricardo, caralho?"
"O que trabalha com vocês, na parte de Música. Foi o coração. Do nada. Pum! Saco!"
"Caralho. Sério? Não lembro o sobrenome dele, mas sei quem é. Quem era..."
"Então, falaram hoje. Viver tá foda. Ninguém se comunica mais. Isso fode meio mundo. Ainda bem que ainda temos o fumódromo aqui. Bom, deixa eu ir. Abraço."

Pedro fala com Cuca:
"Bah, Cuca, o guri que fazia música morreu, tá sabendo?"
"Quem, Pedro, vai te foder. O que é isso?"
"O Ricardo, não me lembro o sobrenome."
"Pieralini?"
"Isso, acho que é isso. Era. Coração. Bah! Saco!"
"Saco digo eu. Ele era foda. Pô, que pena."

Cuca com Carol:
"Carol, tá sabendo o que houve com o Ricardo?"
"Com o Ri? Nada, acho. Por quê?"
"O Pedro contou... Ele morreu. Algum colega do Globo que conhecia ele falou."
(Carol engasga) "Ai, mentira! Vou tentar falar com ele."

Carol tenta várias vezes. E não consegue. Todos já sabem que Ricardo morreu. Alguns sentem. Outros querem mais é que ele se foda no inferno. No fim da tarde, o telefone do defunto chama novamente:
"Ri?"
"Oi."
"Ri, tudo bem?"
"Oi, Carol. Tudo bem, e você? Aconteceu alguma coisa?"
(Carol chora) "Disseram que você tinha morrido. Do coração."
"Porra, agora que eu tô saudável. Academia. Correndo seis quilômetros por dia. Porra, bando de filho da puta."
"Ufa, Ri. Fiquei uma pilha. Caralho."
"Bom , relaxa. Amanhã é sábado e eu vou aí logo cedo. Tomamos uma cerveja, comemos. Vamos comemorar minha nova vida."
"Eba."

Ricardo liga para Carol, sábado, início da noite:
"Carol, fodi as costas. Tô parecendo o House. Chato e manco."
"Porra, Ri, mancada. Eu tinha combinado tudo."
"Pô, desculpa aí, não é culpa minha. Espera que eu vou tentar ir ainda. Te ligo em 15."
"Beijos."
"Beijos."

Ele não liga. Cinco horas depois, Carol para Ricardo:
"Morra!"

Ele, bêbado, nem ouviu.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Não dá pra tomar queijo

Solta a boca do copo
Pára de morder, caralho
Tem gente que quer tomar mesmo quando o vinho acaba
Agora, minha boca tá roxa. Tá sangrando
Vai morder a porra do caralho que o parta!
Nem, nem curto
Pior é que nem tem mais vinho
Tem só o queijo, o pão e as azeitonas
Alguém sabe o porquê de sempre sobrar queijo e pão?
Porra, não dá pra tomar queijo. Nem pão
Último gole, meio quente
Vinho tinto não se toma com a temperatura do Verão
Ducha, ducha
E sono
Amanhã tenho de comprar o jornal
E band-aid para a boca

Contento

No fundo, eu queria ser jogador de futebol
Não. Eu queria ser jogador de tênis
Não. Queria ser cantor de qualquer banda
Eu quero ser é escritor
Por enquanto
Me contento em tentar entender meus vinhos

sábado, 12 de janeiro de 2008

Eu escrevo pra ninguém

Pensando bem, eu escrevo pra ninguém. Ok, você pode estar aí lendo essas coisinhas. Mas você é um pedacinho de nada, uma coisa nenhuma, uma merdinha sem cheiro e sem cor.

Muitos iguais a você fariam a diferença. Virariam uma merda gigante, escura e fedida. Por enquanto não. Eu escrevo pra ninguém e me sinto muito bem assim. Inodoramente. Às cegas.

Pensando bem, eu sou o verdadeiro indie. Não tô usando all star. Não tô ouvindo nada, só o teclar dos meus dedos. Não tenho franja, tá tenho uma. Foda-se. Eu sou o verdadeiro indie. O poeta sem leitor. O contista sem crítica. Puta honra.

Gole de Chivas. Cheers! Mas é o seguinte: além de toda essa besteira que eu escrevi, tem o fato de eu ser mais um. Sim. Porra. Se eu escrevo e ninguém lê, pode haver milhões que escrevem pra ninguém. Pode não. Há. Certeza. Puta que os pariu.

Eu bem que tentei fugir disso, mas não dá: sou um porra de um tipinho comum. Esse que chora. Esse que ri. Esse que bebe. Esse que pensa. Disso eu não abro mão. Mesmo que ninguém me leia. Cheers!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Perdoa-me, Gabo

Aos 31 anos, cheio de questionamentos vitais e seguro de que muitas das respostas nunca virão, tomei uma decisão fundamental de ano novo (coisa, aliás, que acho ridícula): vou começar a jogar videogame.

Vou começar não. Já comecei. Vi preços de aparelhos - cujos modelos e possibilidades eu desconheço - e estava quase fazendo mais uma dívida quando meu irmão, salvador, veio com a notícia. "Cara, tenho um Playstation 2 na caixa e não uso. Leva pra você jogar."

Dito e feito. E bem feito, no final. Instalei, joguei algumas vezes completamente atrapalhado com o número de botões e, enfim, imaginei estar ambientado com o treco. Detalhe: para jogar, deixei Garcia Márquez adormecido ao lado da minha cama. Cheio de histórias pra contar, tagarela e genial, como sempre.

Voltando. Após as tentativas e os treinos, cheguei em casa na segunda-feira, à 1 hora, madrugada pós-trabalho, e decidi desbravar um CD do videogame. "Shadow of the Colossus", ou algo bem parecido, é o nome do negócio.

A abertura - quase um filme, inclusive sem jogo - durou uns 15 minutos. Daí, meu controle tremeu, consegui dar uns passos com o bonequinho e... novo capítulo da produção. Cerca de meia hora depois de ligar, finalmente começa a brincadeira.

Vou resumir o final para amenizar o sentimento de piedade: fiquei uns 90 minutos jogando. Corre, pula, levanta a espada, sobe no cavalo, desce, corre mais, entra na água, entra no castelo, sai do castelo. E só isso. Não achei um inimigo, não matei ninguém, não "conversei" com qualquer porra de personagem. Fiquei numa punheta virtual que saiu do nada para o lugar nenhum. E descobri que não tenho a menor vocação para essa grande bosta.

No fundo, isso é uma excelente notícia para meu cérebro. Mas, como não sou insensível, só me sentirei livre novamente após minhas desculpas públicas. Perdoa-me, Gabo!