domingo, 30 de dezembro de 2007

Sujou

Sou absolutamente neurótico com a limpeza da minha casa. Neurótico mesmo. Já houve dias em que minha namorada teve de ficar parada num canto, me olhando, enquanto eu varria e passava um pano freneticamente por todos os cômodos. Era justo, a faxineira tinha limpado tudo quatro dias antes. Enlouquecedor.

Pois bem, digo a todos: no penúltimo dia deste ano, minha casa está um nojo exemplar. Meu cachorro maluco mija no quintal e entra com as patas úmidas, se lava com água por todos os cantos. Eu derrubei comida no sofá e no chão da sala. Tem cabelo por todos os lados. Fora a poeira. Fora o cheiro. Fora que meus banhos estão escassos. Juntou tudo.

O quintal fica meio limpo, porque chove vez em quando e arrasta tudo para o ralo. Então, fugindo desse meu reduto imundo, resolvi passar hoje todo o dia no quintal. Assim foi.

Fiquei meio preto por causa do Sol de trinta e poucos graus. Também estou meio lerdo, sentindo o cérebro mole como o de um recém-nascido. Me enchi de água, olhei horas para as nuvens e ouvi todas as história idiotas dos meus vizinhos.

Pra quê? Não sei ainda se fugi da sujeira ou da preguiça de limpar tudo. Mas que se foda. Agora preciso tomar um banho, tomar uma cerveja, ler um pouco de Garcia Márquez e dormir. Amanhã é segunda. Sábado que vem é dia de faxina.

A Volta

O blog foi reativado. Até quando eu achar que assim deve ser. Obrigado.

sábado, 20 de outubro de 2007

Músculo

O homem de músculos
E o homem de cérebro
Eles se encontram quando dá
O homem de choro
E o homem de riso
Esses nunca se dão
Então meu irmão
Deixa tudo isso pra lá
Enche o copo de vinho
Pra transbordar a mágoa
Dança na chuva
Deixa a água lavar a alma
Mesmo assim se nada acalma
Se nada basta
Arranca o mal pela raiz
Bebe a lama em que pisou
Escarra no ventre que lambeu
Abre a janela
Que é pro vento entrar
Enterra o homem de cérebro
E se joga
E voa
E voa
Não morra
Se seu músculo bastar

?

Eu será tão que sou complicado? Cabeça minha que será tanto roda mesmo? Que serei eu? Que será disso? Que raios?

Vida

Se eu não morrer
Não me enterrem
Deixem-me ver o tempo, lento
Deixem-me apodrecendo, lento
Até que minha carne vire pó
E só
Até que meu sangue seque
E ecoe o grito:
Até que a vida nos separe!
Até-que-a-vida-nos-reúna!

Anoiteço

Se a noite fosse só o escuro, eu juro
Me arrastaria num breu
Mas... ah, a noite é mais

Ela desencava os mortos
Enterra meus sonhos tortos
Faz da luz uma imensa treva
Deixa ver Deus até no ateu

A noite cria no silêncio um vácuo
Um nada incontável, seu apogeu

Vê que a lua, esse ser divino
De tanto cantado escureceu

Como a estrela que era brilho
E cansou de cintilar, escondeu

Tudo o que fica é uma sombra
Sobra então o ombro, só

Chora o choro, passa o tempo
Embebeda o pensamento lento

Vira um vulto vagando, vendo
Vai se desmanchando o breu

Clareia o dia, enfim
Arrasta a morte, tenta
Derruba músculos, pálpebra, ventas
Desfaz tudo o que doeu

E assim desfalece o negro
O escuro que havia arde
Ah... a noite sou eu

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Os Olhos Não Traem

Tô enferrujando, quase não consigo escrever. Mas meus olhos não me traem. Tenho visto muito. Demais até. Olha:

O gol do artilheiro tava impedido.
O mendigo segue cantando aqui na rua.
A vizinha briga com o frouxo do marido todo santo dia.
Meu cachorro é um misto de autista e esquizofrênico.
Os olhos verdes são os mais lindos.
Eu sei que você não estava onde dizia.
O velhinho com a carroça abre meu lixo nas madrugadas em busca de sucata.
Minha merda anda mole demais.
Minha amígdala segue enorme.
O Chico tá com cara de idoso orelhudo.
Tinha um pentelho no meio do arroz.
O céu é sempre azul por aqui.
A poeira é gigante.
O lençol ficou manchado.
O piso tá sujo de novo.
E seu blog, ah... esse blog é invisível.

Tem alguém ainda olhando pra ele?

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O Bêbado

O bêbado chegou do meu lado ontem à noite. Cambaleando. Pediu fogo. Não tinha. Pediu companhia. Não dei. Pediu um troco. Nem a pau.

Depois, parou de pedir. Foi saindo, aos tropeços.
Mas parou. Ergueu o indicador da mão direita. Ensaiou uma meia-volta e se virou novamente para mim.

Deu dois passos. Me olhou bem - bem, ao menos tentou me olhar. Se esforçou pra manter o equilíbrio e disse: fica com Deus e vai com cuidado.

Eu, mesmo sóbrio, nunca tive tamanha bondade.

terça-feira, 26 de junho de 2007

O Grito

Eu chegava em casa sempre no mesmo horário, pouco depois das nove da noite. Naquele dia, não foi diferente. Saí a pé do escritório, subi os dois quilômetros da avenida deserta, parei no mercado e peguei os pães e a salada de pimentão que a atendente já havia reservado. Tudo exatamente rotineiro.

Paguei com a nota de dez reais, recebi meu troco em moedas e segui minha caminhada para casa. Faltavam poucos quarteirões. A vida seria aquilo? Um roteiro programado e quase sem alterações? Pensei por dois segundos e só. Nunca fui de pensar. Sou fã incondicional da inércia e da ação do tempo.

Entrei no prédio quase sem fazer barulho, nunca gostei de ser ouvido. O segurança me viu, mas tudo bem, ele sempre me via e estava lá para aquilo mesmo. Ele justificava a merda do salário dele.

Comi no apartamento quase vazio, entre a poeira do chão, a cadeira de plástico da sala e a TV cheia de ruído. Abri a janela para tomar um ar. Ninguém para ver. Que tipo de gente habitava aquele lugar? Será que todos faziam como eu, entrando às escuras, ocultando o barulho das chaves, subindo as escadas nas pontas dos pés?

O silêncio me chamava para a cama. A cama pedia um livro. E assim foi, direto para meu mundo mais agitado e aventureiro. Aquele cara, o do livro, era um bendito filho da puta. Bebia todas, comia todas. Naquela noite, lá estava ele em uma nova investida sexual. Vai, rapaz, boa sorte.

Não houve tempo nem para as preliminares. A vizinha me despertou. Sim, a vizinha muda e quase invisível. A bonitinha da porta ao lado. Enfim, vida no prédio fantasma. E vida com 'v' maiúsculo, diga-se. Saí do mundo do meu livro por causa dos gemidos nada abafados da mocinha.

Aos poucos, aquela euforia sexual toda podia ser compreendida. Ok, eu colei o ouvido na parede para ouvir melhor. Instinto jornalístico, puramente. E somente. E não é que a fantasminha gostava do negócio? "Vai, mete." "Enfia, enfia." "Mais forte, mais forte." Eu, do meu lado, comecei a torcer junto e, confesso, cheguei a repetir algumas palavras, quase gritando. Onde aquilo acabaria?

Pois acabou em grande estilo. "Isso, isso, enfia tudo no meu cu!", gritava a vizinha revelação do ano. "Assiiiiiiiiiiiiiiiim..." A vida é injusta: eu jantando salada de pimentão com pão e alguém jantando a minha vizinha. "Bom apetite, caralho!"

Tive então a grande idéia. Para que deixar tudo calmo se é possível causar constrangimento? Me postei na sala, liguei a TV cheia de ruído, sentei na cadeira de plástico e esperei. Com a porta para a rua aberta. Realmente sou um gênio. Não perderia o casal saindo por nada.
Provavelmenete me olhariam, dariam um 'boa noite' sem jeito e iriam. Bastava. Sou um gênio.

E também sou impaciente. Foram duas horas de uma espera longa e angustiante. Eu já cochilava quando ouvi a porta ao lado abrir. Me ajeitei na cadeira, fingi naturalidade e, óbvio, fiquei olhando para o corredor. Primeiro saiu uma vizinha bonitinha. Vestia uma camiseta, um short azul e parecia desconfiada, a arrombada. Me olhou de relance. Não disse uma palavra. Cadê o puto comedor de cu?

A moça parou no corredor e deu passagem para seu par. Seu par, literalmente. O comedor de cu era, na verdade, uma comedora de cu. Toda sorridente, vejo outra vizinha, a do apartamento de baixo, descer as escadas sorrateira, ainda com aquele cabelo úmido de poodle.

A porta do lado fechou. Eu sacudi a cabeça, perplexo. Essa merda seria um sonho? Não era. Fiquei paralisado na cadeira de plástico por mais uma hora. Quer dizer que eu comia pimentão e a vizinha de baixo comia o cu da vizinha do lado? Uau, o prédio não era fantasma afinal. Mas assustava.

Fui ao banheiro, tomei um ducha, escovei os dentes e voltei ao meu quarto. Só me restava
dormir. O silêncio, senhor de quase todas as horas, estava lá novamente. Mas eu tinha algo a fazer. Levantei da cama, fiz uma pose ninja e bati os pés no chão com força, repetidas vezes. E esmurrei a parede da vizinha do lado como se fosse um fã do Mike Tyson, repetidas vezes. Ambas tinham de estar acordadas agora.

Parei, contei até cinco e gritei em alto e bom som: "Vão tomar no meio dos seus cus!" Ninguém respondeu. Eu dormi como um anjo. E nunca mais ouvi uma metida naquele prédio.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Arrasto

Arrasto meu rastro
No fundo sou casto
Mas gasto
Mais gasto

Um dia me acho
Então um escracho
Quão baixo
Tão baixo

No fim terei rumo
Reto no prumo
Não sumo
Nunca sumo

Me arrasssssssssssssssssssssssto
Te arrassssssssssssssssssssssssto

Enquanto isso
Um lapso
Um rasgo
Todos ao caralho

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Intran...?

Minha vizinha chamou a polícia às 22h15 porque eu tava comendo pizza no domingo passado e bebendo um vinho chileno que me deixa alegre e vendo uma porra de um DVD e conversando sobre os rumos do universo. Éramos quatro mais o poodle.

_Seu guarda, desculpe, o senhor deveria estar prendendo bandidos. Eu só tô comendo pizza...

_É, eu sei, meu filho...

_E a senhora, cara vizinha, conhece a palavra intransigência?

_Intran...?

_I-n-t-r-a-n-s-i-g-ê-n-c-i-a.

_Você quer impressionar com esse papinho de advogado...

_É, advogado... Bom, vou entrar e comer mais pizza. Ela não fala minha língua, seu guarda...

_Eles estão numa festa, todos alcoolizados...

_Na minha casa eu bebo quando, quanto e o que eu quiser. Seu guarda, deixa eu falar no seu ouvido: ela vai te chamar quando eu estiver trepando, ok? Já anota o endereço que o senhor voltará sempre...

_...

_Você ri, não é? Adeus...

Entrei, fechei a porra do portão, voltei à pizza e ao vinho. Os amigos foram embora, obviamente. O DVD encheu o saco, obviamente. A vizinha seguiu no Fantástico ou algo fantástico do tipo. Enchi a taça e resolvi ser um bom menino: desliguei a TV. Mas toquei violão até as 3 horas, cantando alto para os males espantar.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Criança em Mim

Era eu, vivendo solto
Era você, na espera
De repente, éramos nós
Bailando
Livres
Sussurando naquela rua

Era eu, não fui mais
Era você, já não era
De repente, éramos nós
Sorrindo
Lindos
Uivando para nossas luas

Agora, o que somos?
Deixa-me ser seu
Deixa-me viver aí
Faz de mim esse ser
Pronto

Pois sendo seu
Sou mais eu
E, sendo seu
Eu...
Posso ser quem sempre quis
Quis assim!
Entregue
Criança
Feliz

E agora, que somos
Deixa de sofrer
Deixa eu te viver
Morre enfim o padecer
Ponto

Pois sendo assim
Serei mais seu
E, sendo minha
Nós...
Já não há querer que diz
Você quis assim!
Sossega
Criança
Em mim

Houve um inverno rigoroso

As letras congelaram

A mente descansou

Agora, já não mais

Tudo ferve, tudo ferve

Há um inferno saboroso

domingo, 13 de maio de 2007

O Pouco Que Sobrou*

Eu cansei de ser assim
Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim
Por onde eu devo ir?
A vida vai seguir
Ninguém vai reparar
Aqui neste lugar
Eu acho que acabou

Mas vou cantar
Pra não cair
Fingindo ser alguém
Que vive assim de bem

Eu não sei por onde foi
Só resta eu me entregar
Cansei de procurar
O pouco que sobrou
Eu tinha algum amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu

Se existe Deus em agonia
Manda essa cavalaria
Que hoje a fé
Me abandonou

(*especialmente, por hoje, um texto de outro)

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Basta/Carta

Sou eu ali, no topo daquele cume
Lá longe, querendo ser distante
Mas, no fundo, sou eu perto
No fundo, somos nós juntos
Ou que sentido haveria?
Que sentido há?

Há o sentido de mudar
Há? Basta acreditar
Não. Basta querer
E deixar de temer
E se deixar levar
Ou o que resta? Ficar

Eu sempre baixei a cabeça
Era isso, medo de ser você
Mas é. Graças... é!
Cadê você, meu bem?
Olha minha montanha
Deixa eu olhar seu mar

Ninguém escolhe ninguém
Escolhe. Deixa de bobeira
Você escolheu a mim
Seus amigos sempre serão
Seus amigos, e assim
Serei seu, enfim

--

"São duas da manhã
Fecho meus olhos e não durmo
Fecho meus olhos e, virou rotina,
Vejo apenas você
Vejo seus olhos

Os olhos mais lindos, imensidão
Vejo seu sorriso, amplidão
Vejo sua timidez, meu porto
Vejo seu silêncio, meu torpor

Vejo esse invisível que faz
De você, indizível
A pessoa que tira meu sono
E me enche de vida

Se eu fecho meus olhos
E vejo tudo isso,
Pra que dormir?
Pra que trocar
O sonho pelo sono?

Essa não deveria ser
Uma carta tola,
Cheia de lugar-comum
Mas será. E é

Esse sentimento me revira
Tem tradução impossível
Tem pouca explicação
Mas será. E é

Gosto de você como quem
Encerra uma busca infinita
Como quem finaliza
Uma luta já perdida
Como quem celebra
O fato de você me ver

Quer saber: não dormirei
Acordado, sigo em frente
Sonhando, os meus dias
Já pertencem a você
Lua cheia, estrelada
Amanhecer e poente

Me mostro
Me dôo
Me vou
Pra que você nunca fuja de mim"


sábado, 5 de maio de 2007

Minha

Se eu vivo de sombra
Se eu vivo de luz
Por que você deduz
Que o que reluz
Não me cobra?

Se eu choro de dia
E à noite, feliz
Por que você diz
Que o que eu fiz
Não seguiria?

E por que você me habita?
E por que você hesita?

Porque sua vida, minha
Não é só sua, minha

Sua vida ainda cresce
Cresce, mas engatinha

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Pronto

Quero ser teu

Pleno, inteiro

Poeta, primeiro

Morar em teu porto

E acordar sonhando

Viver em delírios

Crescer em teus cílios

Te olhando de perto

Silenciosamente

Continuamente

Porque estou pronto

E ponto

Passionalidade

Jamais chorei assim
A casa foi inundada, submersa
Os móveis ficaram perdidos
Ninguém ousou se aproximar
O cachorro desistiu de latir
A luz entrou em curto e apagou
Até a chuva cessou, por piedade

Jamais corei assim
Na frente da tela, na espera
O riso ficou abafado, preso
Tive medo de me aproximar
O vigia olhou desconfiado
O elevador subiu, arrastando-se
A água acabou, pela sede insaciável

E entre o corado e o chorado
Entre o certo e o incerto
Houve o quê?

Sequer tempo houve
(Me ouve...)

Houve a quebra abrupta
A pontada aguda
O desejo de escolher de pronto

Pronto: está feito
(Me ouve...)

Vai-se o novo, sem efeito
Vai-se o novo, quase inteiro
Quase inteiro

Ah, lindo jeito racional
(Me ouve...)

Vê-se que o opção, na verdade
Foi nada mais que um arroubo
De pura passionalidade

sábado, 21 de abril de 2007

Encanto

Você faz com que eu te leve
A todos os lugares

Mesmo que seja proibido
Mesmo que seja tarde

Ainda que os dias voem
Ainda que as horas passem

Você passa
Eu descompasso

Você anda
Eu desando

Você se move
Eu congelo

Você é fogo
Eu só queimo

Você é o colo
Que eu quero

Que eu sonho
Que eu venero

E haverá canto
Para o sonhar

Enfim virar
Encanto

sábado, 31 de março de 2007

Gota

Escorre pela testa
Testa
Passa pelo rosto
Gosto
Rasga a boca
Pouca
Corre o peito
Leito
Foge do ventre
Dormente
Dor latente
Pungente
Urgente
Pela perna
Perde
Deita o dedo
Medo
E vai ao chão
Pavor
Só uma gota
Esgota
Só suor
É só suor
Mas soa
És gota
E só

terça-feira, 27 de março de 2007

Sou

No fundo
Sou raso
Um rasgo no tempo
Um lapso das horas
Caminho torto
Falo pouco
Se é pra me descobrir
Tem de olhar de perto
Tem de olhar no fundo
Não tenho trocado
Meu sonho é em vão
No fundo
Sou não
No raso
Sou são

terça-feira, 20 de março de 2007

Meu caminho

Desejo, cegamente, que você cresça
Que o que houve, ouça pra existência
Que o que pensou, amadureça
Pois na vida não há o que não seja
Sendo o ser nosso querer, mereça

Desejo, naturalmente, que você se case
Pois não há o que separe os pares
Não há o que divida os lares
Sendo o ser sua morada, ampare
Vindo a dor, que seus ombros, parem

E nunca chore, nunca duvide
Nunca pense que a dor
Deixa um convite
Pra ir morar contigo

Eu moro contigo
Eu vivo e consigo
Eu vejo que o natural
E o cego
Caminham juntos
E vêem, sozinhos
Que nada é inimigo
Que o novo é o antigo

Cantinho
No cantinho eu vivo
Eu caminho meu caminho

Livre

Cuba libre
Fidel vive
Quem me inibe

Nem tu, cretina
Nem eu, rotina

Pra quem vive
Nada inibe
Cuba libre

terça-feira, 13 de março de 2007

Ninguém gosta do meu gosto
Quando meu gosto é ácido

Ninguém goza do meu gesto
Quando meu gesto é áspero

E ai de quem tentar querer o meu querer
Porque o que eu tenho é ácido

Mas há quem me queira, há quem me ame
Há quem reclame de não poder me querer

E ainda que um dia dure uma eternidade
E que a solidão acorde na madrugada
E siga meus passos por todos os cantos
Há de haver quem goste do meu gosto


Mesmo ácido
Mesmo áspero
Mesmo ácido

Mesmo sendo assim do jeito que for

Seja de horror
Seja de dor
Seja sem cor

Mas há quem me quererá, quem amará
Sem reclamar e podendo querer
Simplesmente gostando
Do gosto de me ter

segunda-feira, 5 de março de 2007

No ar

Há algo espesso que eu sinto no ar
Pois é hoje que ele vai me ajudar
Abrirá seus olhos, sua mente
Bem ele, ser oponente
Encerrará o vazio
E agora: já sente

Sente-se
Sinta
Sente-se

E agora: presente
O começo do meu rio
Corrente, água quente
Pulso pra que você me reine
Hoje tem início nosso desaguar
Pois sinto algo forte que há no ar

Eu espero

Se demora para te conquistar
Eu espero

Acordo para andar
E te levo
Sento para almoçar
E te janto
Até esqueço de parar
E não paro

Se demora pra te conquistar
Eu espero

A demora para eu estar
No seu tempo

É o que leva para ficarmos
Inteiros

sexta-feira, 2 de março de 2007

Vodu

Sinto umas pontadas estranhas nas costas
Tem alguém aí brincando de vodu comigo?

Sinto meus olhos pesados e tombando
Tem alguém aí pensando em me apagar?

A luz do norte não indica a morte
A sombra do leste não reflete a peste

Para garantir a paz, comprei um 38
E doses exageradas de soníferos

Click. Glub. Boa noite

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Liberto

Livro-te. Liberto-te

E tu me prendes, por favor

Tu me absorves, inteiro

Pois era fim do que era antes

E é início do que é livre

Liberto

Infinito em ti e em mim

Nosso mundo em nós

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Impublicável

Não lerás uma linha aqui

Só a que diz pouco

Só onde fiz nada

O muito eu guardo

O muito aguarda

Não lerás uma linha aqui

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Grito

Meu arrepio, minha incerteza, meu medo
Tudo que antes fora segredo
Vira esse enorme mar de secura
Causa agora essa imensa loucura
Faz do oco esse peito cheio
Chega a tremer, beira o desespero
Mas sacode de alegria. E grita
E grita
E grita
E como grita!
Da janela minhas flores dançam
Da sacada minha mente avança
Do fundo da alma... chamo-me esperança

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Incondicional

Se houvesse mágica, eu diria três ou quatro palavras e me colocaria aí dentro.

Se houvesse lógica, você veria que minha entrega é incondicional, e me aceitaria.

Mas não há mágica ou lógica no amor. Nele, o certo perde o sentido. O erro vira acerto.

O pulsar vale mais que o pensar. A fase é essa: eu pulso, você pensa.

E se eu parar pra pensar? E se você resolver não pulsar? Não há mágica.

O mundo continuará a girar. Eu seguirei sendo seu guia. Como sempre. Desde sempre. Você vendo ou não.

Mas a mágica pode simplesmente virar lógica. Aí, como num quebra-cabeça, cada peça se encaixará. E fim. Começo.

Oração de coração

Entrego-te esta oração
Deito a mão no teu colo sagrado
Seco a dor e teu pranto
Calado


Entrego-te esta oração
Ilumino seu dia, ensolarado
Guio o passo e teu vôo
Alado

Cuido para que o mar
Outrora bravio, agitado
Vire teu remanso
Cubra-te de paz
Faça seu milagre salgado


Entrego-te esta oração
Vago por seu mundo adorado
Curo a ferida e tua chaga
Passada


Entrego-te esta oração
A luz de um clarão inesperado
Vento forte no teu corpo
Morada


Cuido para que o céu
Outrora negro e carregado
Faça tua alma levitar
Ergua-te ao infinito
Faça de ti anjo imaculado

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Como o céu

Como o céu que muda de cor quando encontra o mar
Como a nuvem que se abre para o avião passar
Como a flor que se aviva com a chegada do verão


Como o mel e o zangão
A onda e a areia
A tribo e a aldeia
O arroz e o feijão


Como o fogo e o vulcão
A rima e a poesia
O amor e a euforia
O sagrado e a oração


Você é meu complemento
Minha fome, meu alimento
Minha transfiguração

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Desta vez

Eis que você aparece
Do nada, como sempre
Sem lenço, sem talvez
Tomara que desta vez
Não misture minhas vestes
Não revire meus acertos
Não desvire o que é certo
Tomara que desta vez


Eis que você aparece
Assim toda, oi, querido
Assim, tenho novidades
Tomara que desta vez
Você venha bem sozinha
Esteja toda atrevida
Venha pronta para mim
Tomara que desta vez


Que seja a última
E a primeira
A inaugural
A derradeira
O ponto final
E a partida


Mas que nada fique parado
Nem o sujo, nem o imaculado
Nem o limpo, nem o rasgado
Nem o próximo, nem o acabado
Que se mova o que era algo
Que se viva o que era farto
Que se morra o que era salvo
Tomara que desta vez

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

A sós

Te dispo
Te visto
Te miro
Te finjo
De minha

Te risco
Te pisco
Te brinco
Te finjo
De nua

Minha força de viver
Minha fome de comer
Minha vida de viver
Vida de ser com você

Agora eu deito
e durmo
e sonho
e ronco
e sonho
e vivo
só pensando em te ter por perto

Agora eu leio,
aprendo,
releio,
rolo,
revejo
e vejo
que só há você por perto

Sonho de ser eu
Dia de sermos nós
Vida que virou
Assim
Nunca mais a sós

sábado, 6 de janeiro de 2007

Eu sonho

Encaixa seu corpo em minha alma, me acalma
Abraça meu braço, eu te mostro como faço
Traz seu olho pra brincar de ficar sério
Despe meus mistérios, muda meus critérios
Entra por aquela porta, nossa morada

Sorri sua risada de mar agitado, minha onda
Deita nessa teia, me levanta, me levanta
Traz seu olho pra mirar meu ser inteiro
Despe meus critérios, cria seus mistérios
Entra porque eu me importo, eu sonho

Acaricia meus cabelos
Dá a mão pra eu apertar
Acaricia meus ventos
Dá a mão pra eu te levar

Se enrola em meus dedos
Abre a boca quando beijo
Se enrola em meus jeitos
Fecha a boca com desejo

Quem diria que assim
Assim meio sem querer
Pouco antes de amanhecer
Nova vida iria nascer...