sábado, 20 de outubro de 2007

Músculo

O homem de músculos
E o homem de cérebro
Eles se encontram quando dá
O homem de choro
E o homem de riso
Esses nunca se dão
Então meu irmão
Deixa tudo isso pra lá
Enche o copo de vinho
Pra transbordar a mágoa
Dança na chuva
Deixa a água lavar a alma
Mesmo assim se nada acalma
Se nada basta
Arranca o mal pela raiz
Bebe a lama em que pisou
Escarra no ventre que lambeu
Abre a janela
Que é pro vento entrar
Enterra o homem de cérebro
E se joga
E voa
E voa
Não morra
Se seu músculo bastar

?

Eu será tão que sou complicado? Cabeça minha que será tanto roda mesmo? Que serei eu? Que será disso? Que raios?

Vida

Se eu não morrer
Não me enterrem
Deixem-me ver o tempo, lento
Deixem-me apodrecendo, lento
Até que minha carne vire pó
E só
Até que meu sangue seque
E ecoe o grito:
Até que a vida nos separe!
Até-que-a-vida-nos-reúna!

Anoiteço

Se a noite fosse só o escuro, eu juro
Me arrastaria num breu
Mas... ah, a noite é mais

Ela desencava os mortos
Enterra meus sonhos tortos
Faz da luz uma imensa treva
Deixa ver Deus até no ateu

A noite cria no silêncio um vácuo
Um nada incontável, seu apogeu

Vê que a lua, esse ser divino
De tanto cantado escureceu

Como a estrela que era brilho
E cansou de cintilar, escondeu

Tudo o que fica é uma sombra
Sobra então o ombro, só

Chora o choro, passa o tempo
Embebeda o pensamento lento

Vira um vulto vagando, vendo
Vai se desmanchando o breu

Clareia o dia, enfim
Arrasta a morte, tenta
Derruba músculos, pálpebra, ventas
Desfaz tudo o que doeu

E assim desfalece o negro
O escuro que havia arde
Ah... a noite sou eu

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Os Olhos Não Traem

Tô enferrujando, quase não consigo escrever. Mas meus olhos não me traem. Tenho visto muito. Demais até. Olha:

O gol do artilheiro tava impedido.
O mendigo segue cantando aqui na rua.
A vizinha briga com o frouxo do marido todo santo dia.
Meu cachorro é um misto de autista e esquizofrênico.
Os olhos verdes são os mais lindos.
Eu sei que você não estava onde dizia.
O velhinho com a carroça abre meu lixo nas madrugadas em busca de sucata.
Minha merda anda mole demais.
Minha amígdala segue enorme.
O Chico tá com cara de idoso orelhudo.
Tinha um pentelho no meio do arroz.
O céu é sempre azul por aqui.
A poeira é gigante.
O lençol ficou manchado.
O piso tá sujo de novo.
E seu blog, ah... esse blog é invisível.

Tem alguém ainda olhando pra ele?