terça-feira, 13 de novembro de 2012

Um grão de culpa

Um abandono, meu caro
Será sempre um abandono
Mesmo que seja de um cão
Desalmado e sem cabeça

Um grão de culpa, caríssimo
Será sempre um grão de culpa
Ainda que algo conforte
Vindo a noite, anoiteça

Deixe que o mar lhe lave
Chore junto sua lágrima
Sendo sal, ela derrete

Deixe que a culpa seque
Sorria um riso frouxo
Sendo dor, ela arrefece





quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Vidas e navios

Foi ao mar
Voltará?
Não depende dele
Só do mar

Na saída da praia
O marujo se pergunta:
Depois de tanto inverno
Há de haver verão?
Depois de tamanha seca
Haverá de chover?

O que ele sabe:
A gota d'água
É só uma gota
Mas também é água
O grão de areia
É só um grão
Mas cheira a mar
A ponta da dor
É só a ponta da dor
Mas não deixa de doer

O que ele não sabe:
O milagre da água
É menos o molhar
Que o poder de renascer

O que ele deveria saber:

O vento
Ainda que não sopre
Teima em balançar
As vidas e os navios
O amor
Ainda que não arda
Tem o dom de afundar
As vidas e os navios

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Terna melodia

De tanto pensar, sucumbo
O que é noite vira dia
E a loucura repetida
Lenta e terna melodia
Anuncia em seu refrão:
Mas de que vale pensar?
De pensar se morre louco?
Sem pensar se vive pouco?
Tenho que sim para as duas
Por assim pensar, sucumbo
Mil vezes morrer louco
Que, vazio, viver pouco