sábado, 12 de janeiro de 2008

Eu escrevo pra ninguém

Pensando bem, eu escrevo pra ninguém. Ok, você pode estar aí lendo essas coisinhas. Mas você é um pedacinho de nada, uma coisa nenhuma, uma merdinha sem cheiro e sem cor.

Muitos iguais a você fariam a diferença. Virariam uma merda gigante, escura e fedida. Por enquanto não. Eu escrevo pra ninguém e me sinto muito bem assim. Inodoramente. Às cegas.

Pensando bem, eu sou o verdadeiro indie. Não tô usando all star. Não tô ouvindo nada, só o teclar dos meus dedos. Não tenho franja, tá tenho uma. Foda-se. Eu sou o verdadeiro indie. O poeta sem leitor. O contista sem crítica. Puta honra.

Gole de Chivas. Cheers! Mas é o seguinte: além de toda essa besteira que eu escrevi, tem o fato de eu ser mais um. Sim. Porra. Se eu escrevo e ninguém lê, pode haver milhões que escrevem pra ninguém. Pode não. Há. Certeza. Puta que os pariu.

Eu bem que tentei fugir disso, mas não dá: sou um porra de um tipinho comum. Esse que chora. Esse que ri. Esse que bebe. Esse que pensa. Disso eu não abro mão. Mesmo que ninguém me leia. Cheers!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Perdoa-me, Gabo

Aos 31 anos, cheio de questionamentos vitais e seguro de que muitas das respostas nunca virão, tomei uma decisão fundamental de ano novo (coisa, aliás, que acho ridícula): vou começar a jogar videogame.

Vou começar não. Já comecei. Vi preços de aparelhos - cujos modelos e possibilidades eu desconheço - e estava quase fazendo mais uma dívida quando meu irmão, salvador, veio com a notícia. "Cara, tenho um Playstation 2 na caixa e não uso. Leva pra você jogar."

Dito e feito. E bem feito, no final. Instalei, joguei algumas vezes completamente atrapalhado com o número de botões e, enfim, imaginei estar ambientado com o treco. Detalhe: para jogar, deixei Garcia Márquez adormecido ao lado da minha cama. Cheio de histórias pra contar, tagarela e genial, como sempre.

Voltando. Após as tentativas e os treinos, cheguei em casa na segunda-feira, à 1 hora, madrugada pós-trabalho, e decidi desbravar um CD do videogame. "Shadow of the Colossus", ou algo bem parecido, é o nome do negócio.

A abertura - quase um filme, inclusive sem jogo - durou uns 15 minutos. Daí, meu controle tremeu, consegui dar uns passos com o bonequinho e... novo capítulo da produção. Cerca de meia hora depois de ligar, finalmente começa a brincadeira.

Vou resumir o final para amenizar o sentimento de piedade: fiquei uns 90 minutos jogando. Corre, pula, levanta a espada, sobe no cavalo, desce, corre mais, entra na água, entra no castelo, sai do castelo. E só isso. Não achei um inimigo, não matei ninguém, não "conversei" com qualquer porra de personagem. Fiquei numa punheta virtual que saiu do nada para o lugar nenhum. E descobri que não tenho a menor vocação para essa grande bosta.

No fundo, isso é uma excelente notícia para meu cérebro. Mas, como não sou insensível, só me sentirei livre novamente após minhas desculpas públicas. Perdoa-me, Gabo!