quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ponteiros

Passam horas, passam horas
Horas teimam em não passar

E você:
Onde anda?
O que come?
Onde está?

Meu amor, tenho fome
A vida às vezes some
E meu corpo todo teima
Em viver só de ponteiros
A noite toda um tic-tac
Tic-tac um dia inteiro

E você:
Com quem anda?
Com quem come?
Com quem está?

Passam horas, passam horas
Horas teimam em não passar

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Rabisco

Te desenho em cores
Te rabisco
Ou: tento rabiscar
Não sei nada de desenho
Mas sei tudo de amar

Traço retas, riscos setas
Eu só tento te escrever
Faço versos, rasgo verbos
Não sei nada de poesia
Mas se tudo de viver

Faço apenas respirar
Sugo o ar, cuspo o ar
Preso à vida, preso à vida
Nada mais há a fazer
Nem há algo pra chorar

Eu rezo

Eu rezo
Toda noite eu rezo
Nunca peço para mim
Mas rezo
Para que meu amor fique bem
Para que nossa filha tenha sorte
Para que nossos pais nos suportem
Para a vida passe mansa

E mesmo que uma coisa ou outra
Siga fora do lugar, que se oculte
Ainda assim eu rezo
Toda noite eu rezo
Mesmo que nem saiba
O que rezo
E para quem

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Às mordidas

Às mordidas
Come do meu copo
Que eu bebo do seu corpo
Aos goles

Simetria

O que há de simetria
Nesta noite crua e fria
O grito do vizinho louco
O apito do trem, os latidos
Tenho pra mim que nada vale
Quando os lados se equivalem
Prefiro este meu olhar torto
Vesgo, feio e combalido

Não posso

Não posso ser o que querem
Porque sequer ser sei
O que sou

E quando for aquilo que quero
Aí mesmo serei tudo aquilo
Que ninguém quer

Dá-se então que ser é isto:
Um nada

Raça Humana

A raça humana é
Torresmo com cana
Trepada na cama
Gente que engana
E só

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eternidade

Espreme o coração até sangrar
Sente a dor e o gozo de amar

Homem que não ama adoece
O que não sangra nunca cresce

Tem que morrer e gozar de dor
Sangrar tudo e reviver no amor


segunda-feira, 14 de março de 2011

Lua

Pouco me importa saber da lua

Hoje ela é meia, amanhã completa

É como a vida que escapa crua

Como o ventre da mulher nua

É clara um dia, o outro secreta


Pouco me importa saber do céu

Queima o dia, doura a tarde

Transforma o mundo num véu

Faz um doce num dia de fel

Me dói gosta também me arde


E pouco me importa o ontem

Que se ontem fosse hoje seria

Amanhã e desde sempre haveria


Pois sendo hoje há de haver

Desde que o céu é lua

Desde que o sol é dia

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Seu amor meu

Ser feliz é isto:
Ver que se perdeu
A dor de Brel

O ódio de Céline
A raiva de Rubem
A dor de Chico

Tudo isso morreu

Ser feliz é isto:
Dormir piemonte
Acordar pirineus

O
calor de Roberto
O torpor de Charlotte
O tesão de Vinícius
É o seu amor meu

E o seu amor meu
E o meu amor seu
E o seu e o meu
Amor