sábado, 26 de agosto de 2006

Soneto da união

Vida, que quase não era
Cria cores, que não se sentia
Muda o tom, constrói melodia

Vira sol, que traz primavera

E de noite, no meio da gente
Faz-se deste mundo um furor
Unem-se corpo, carne e calor
E a água parada já faz corrente

Pois se a saudade o tempo apaga
A novidade a distância alimenta
E vira esse suor que me arrebenta

Pois se a dor o analgésico cessa
Esse tremor me invade constante
E me sinto contigo em cada instante

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Olhos

Já ouviu falar nos olhos que arrepiam?
Eles deitam em você e nunca dormem
Eles colam em você e nunca calam
Eles vivem e só lhe fazem viver mais

Esses olhos, meu amigo, esses olhos
São como duas eternas luas cheias
Uivam para que a noite acorde
Dormem sempre em suas retinas
Acordam o seu sono de não viver

Já ouviu falar desses olhos, irmão?
Viu essa luz de paz e absolvição?
Você não sabe, ninguém há de saber

Que esses olhos que me arrepiam
Nasceram do lugar mais improvável
Correram este corpo outrora instável
Ferveram no meu sangue o amanhecer

São esses olhos, esses seus olhos
Que me vêem assim, tão diferente
Duas pérolas, dois novos expoentes
Ninguém sabe o que será da gente?

Já ouviu falar de seus olhos assim?
Pois bem, se aqui há paz e perdição

Faço, mesmo ateu, minha oração

E que venha calor
Que venha amor
E salvação

domingo, 13 de agosto de 2006

Ninar

O dia insiste em fazer
O que eu insisto em negar
Faz de mim seu ser assim
Sai da sombra e nasce enfim

Se a noite insiste em cair
Procuro então te seguir
Pelos fins desse lugar
Para viver pra te adorar

Mas o coração teima em rir
Do que insisto em fingir
Algo em mim há de ocultar
Um bonfim pra te deitar

Nada mais pode negar
Este aqui é seu pulsar
Isso em mim é para ter
Todo um sonho só pra ti

Deita aqui
Dorme aqui
Deixa eu te ninar

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Este eco

Há um tempo para cada coisa
E há coisas que não têm tempo
Pois às vezes o tempo foge
Ele escapa com o vento

E o tempo vira um exemplo
E se há ainda um jeito
Um modo de contar o tempo
O tempo que ele desfaz
O vento é amigo do medo
E o medo só sopra em paz

Já fui amigo do tempo
Narrava em mim cada trecho
E hoje, aqui, do meu jeito
Cavo e me escondo de mim

É só pra disfarçar o tempo
É só pra esconder o medo
Mas o tempo me faz ruim
O tempo me dói e me arde
Só me diz quando é tarde
Tarde é noite, escura em mim

Conto o tempo com os dedos
Sigo, fixo, eu perco a conta
Mas, então, o vento adverte
O tempo ainda espreita

Ele estreita e nunca deita
E se deleita com o medo
Pois o tempo é meu irmão
É meu sermão

É meu ímã, meu senão
E se ele passa, passo não
Se ele fica, fica o vão
E este eco... fica e fim