quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Voar

O avião foge de você e me leva pra onde não quero ir
Voa alto, eu vôo alto, faz tempo ninguém quer me ouvir
Cadê aquele pedaço de chuva
Que cobria nossas roupas, revelando tudo em nós

O avião sai daqui e ninguém há de imaginar
Que quando eu vim para cá eu pensava em apagar
Me fui, mas volto de onde parei
Daquele pedaço de solo, do beijo que eu nunca dei

Não anoitece esse sol que é meu despertar
Não diz pro mundo mudar, ele é nosso estar
Mas aqui, assim, dentro do avião
Sonho que o sonho me leva pro seu coração

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Hoje

Hoje lembrei daquele primeiro amor
Era ela tão pura e tão segura
Era eu tão impreciso, tão indeciso
E assim se deu... eu a chorar, a não ir

Hoje lembrei que décadas se foram
Eram tão puras e tão seguras
Era eu tão impreciso, tão indeciso
E assim fiquei... eu a mudar, e não sair

Hoje lembrei que o tempo não voltará
Éramos tão puros e tão seguros
Éramos precisos, decisivos
E assim mudei.. eu a voar, e não partir

Hoje notei que daquele primeiro amor
O quanto de mim que ficou, passou
E agora eu preciso, ainda que impuro
Assim decidir... eu a rir, ou te manter aqui

Cedo

Chego em casa cedo, quase sem falar
O coração na mão, e um copo de vinho
No mundo, nunca mais ficarei no chão

E ainda que a lógica insista em negar
Nunca mais cairei, nunca sangrarei
O sol da janela me diz: saia daqui

Eu abro o armário, dobro o roupão
Viro o disco, aceito dançar a canção
E assim, sem contar, tudo se vai

Como o amor do refrão, que vem dizer
Que vale a pena viver sem sofrer
Ainda que o peito teime em doer

Pois estou aqui só pra contrariar
Caio do barranco e insisto em ver
O mar está ali pra me acolher

Azul em reluzir, ondulando o tempo
Mas o vinho nesta taça já não basta
Pra essa loucura sem defeito

Transfigurando a ida em vinda
Sem jeito quando chego em casa
Eu cedo, quase sem falar