domingo, 21 de novembro de 2010

Que assim seja

Se seus olhos
Olhassem meus olhos

Desde agora
Até o momento do fim

Pedindo abrigo
Pegando fogo

Eu juro que iria correndo
Eu juro

Faria do mundo um lugar
Onde só existisse
Uma coisa

Que seria amor
Pois que seja


E se sua pele tocasse
Para sempre a minha

Como agora
Enroscada em mim

Suando junto
Pegando fogo

Eu correria ainda mais
Eu juro

Faria desta casa um lugar
Onde só existisse
Amor. E seríamos
E que assim seja

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pra você me domar

Feito bicho acuado
Me tranco na toca
Me aqueço com fogo
E mostro as garras

E às três da manhã
Eis que algo chama
Só pra me avisar
Que você não volta

Vem um leve desapego
Seguido de alguma dor
Vem uma baita febre
Seguida de pavor

Mas aí já é tarde
Pois o fogo me toma
E feito bicho acuado
Uso minhas garras

Dilacero seu peito
Trituro sua carne
Bebo todo seu sangue
Até me sentir farto

E depois me entrego
Ainda sujo e dopado
Sentindo um leve asco
Pra você me domar

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Eu quero tudo

Porque eu quero tudo
E de meio, não preciso
Porque eu sinto tudo
E calado, não consigo
Nada me cala, sabe
Sabe, às vezes grito

Faço tudo pois sinto
Pois me arde aqui
E se é difícil entender
Eu simplesmente repito
Eu quero tudo, tudo
De meio, não preciso

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Setembro

Setembro chegou, setembro
Então lembre de uma voz
Que te grita, que te move
Setembro chegou, sedento
E ninguém sabe ao certo
O que virá depois, porque
A vida é bem maluca
E eu sou bem maluco
E a cartomante, lembra
Ela disse que setembro
É o tempo, eu te lembro
De toda essa porra mudar
Em tempo

terça-feira, 13 de julho de 2010

Que te move

Que te basta
se não amor

Que te ri
se não cor

Que te cala
se não dor

Que te prende
se não calor

E tudo mais
naquilo que
pode haver

Que te move
que te morre
que te mantém

Vivo

sábado, 10 de julho de 2010

Dormência

Em alguns dias somos pó
Retratos da indecência
Sai o Sol, esquenta a pele
E ainda assim, no calor
Há um gelo que atormenta

Porque a cabeça lhe pesa
Os ombros lhe doem
E o insípido dessa vida
Com o perdão: lhe fede

Mas creia, mesmo assim
Nesse dia descartável
Pode surgir um sorriso
Uma voz nesse penhasco
Um cheiro de corpo quente

Eis: revela-se o improvável
E um olhar de alma inteira
Que arrebata a treva toda
Sem perdão algum lhe rende

Torna, então, o dia podre
Em que éramos um pó
No cúmulo da decência
Barra nuvens, abre o Sol
Doura a vida, cora a pele

E ensopa o coração, pois
Esse gosto, quero sempre
E vontade, haverá sempre
Tudo sou nessa dormência

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cílios

Cílios são flechas miradas ao céu
Olhos são arcos
Bocas são marcos
Ventre é um abrigo na Terra
Braços são ganchos
Pernas são arcos
Peitos são fonte de nutrição
Pintas são marcas
Pintos são facas
Pele é a capa de um livro
Unhas são lixo
Suores são viscos
Coração é apenas um vulcão
Sangue é lava
Sangue me lava

Cílios são flechas miradas ao céu

terça-feira, 29 de junho de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Do que somos feitos

Penso em ti como alguém
Para dizer apenas te amo
Com toda sinceridade
Despido de toda vaidade

E do mesmo jeito, alguém
Para dizer eu te odeio
Com força e com vontade
Mas nunca na eternidade

Porque acima, e juntos,
Diremos: nos amamos
Sei do que somos feitos

Porque juntos, e acima
Nos amaremos, nas nuvens
Voando, no ar rarefeito

domingo, 16 de maio de 2010

Soneto do farol

O bandido bate no vidro
Ele ataca, mas não mata
Você treme de medo e frio
Sente que a vida escapa

O bandido vai embora, só
Você respira e não relaxa
Ele treme de medo e raiva
Odeia se a presa escapa

Você sabe que seria pior
Se ele tivesse atirado
E tirado essa vida ínfima

Ele jura que será pior
Na próxima vai atirar
Estuprar, foder a vítima

terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma voz

Sou, assim tão calado
Do teu lado, aprendi a viver
Sou, não me mostro inteiro
Primeiro, deixa eu te conhecer

Assim, me descubro em nós
Meus nós, desfaço nessa voz

Sim, mas agora me vejo
Teu beijo, fez eu me descobrir
Sim, quando agora me vejo
Não nego, eu não vivo sem ti

Assim, só nós dois nessa voz
A sós, nem cabemos em nós

Você veio assim
Como se só quisesse saber
De sofrer, de chorar, de querer

E eu cheguei por mim
Como quem só quisesse saber
De contar, de cantar, te encantar

E uma voz
E uma dor
E outra voz
E o amor
Ficou

terça-feira, 20 de abril de 2010

Até que se ria

O amor deve estar
Em coisas menores
Nos gestos banais
Choros sem ódio
Tudo o que passa
Na piada sem graça
Até que se ria

E hoje lembrei
De meu bom amigo
Que me apresentou

Como ouvir João
Como ser chato
Do jeito exato
Até que se ria

Porque essa vida
Menina arteira

Totalmente errada
É totalmente sua
Sinta, integralmente

Futuro e presente
Ate que se ria

Do passado que lhe espia

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Rapidamente

Minha casa de tão pequena
Me faz entrar agachado
Meu jardim, sem ter flores
Azuleja a vista alheia

O céu daqui é cinza
Misto de pó e energia
O rio grosso é lamaçal
Merda que inunda brisa

Ainda assim, ontem
Um pardal passou aqui
Bateu asas. E voou

Ainda assim, hoje
Eu decidi sorrir
Rapidamente. Passou

sábado, 3 de abril de 2010

Logo de manhã

Logo de manhã
Não há quem aguente
Uma mulher carente
Bêbada e molhada
Que implora para você
Comer todos os buracos
Com aquela voz torta
Mistura de fumo e whisky
"Vem transar comigo,
porque sou uma gostosa"
Nessas horas, meu amigo
A melhor coisa a fazer
É abrir um livro novo
E ler pensando que mais
Vale uma página branca
Que uma buceta rosa

sábado, 27 de março de 2010

Che paura

Chove na minha cabeça
Minha cama molhou toda
Me deu gripe, che paura
Finalmente minha vida
Deixa a secura, o árido
Umidificado e limpo
Sigo, puto, vida dura

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pelos e poros

É por não usar camisa
Engomada e made in Italy
Por cagar para a essência
Inédita do perfume francês
Que sou assim

Prefiro mil vezes posar de
Delinquente a virar imbecil
Pavoneando pelas esquinas
Para as meninas, putas finas
Eu sou assim

Aí, à noite, quando vocês
Dobram as nobres vestimentas
Despem-se dos pudores para
Foder sobre o mármore frio
Clareia, enfim

Vocês são como eu:
Pelados, suados, úmidos
Cheios de pelos e de poros

Mas são muito piores:
Porque vocês são quase
Nada sem o rigor da moda

E eu sou isso mesmo:
Suor, saliva, porra
Sou fé, fedor. Sou foda

sábado, 13 de março de 2010

Mosquito

Mosquito esmagado no banheiro
Perninhas finas erguidas
Quase com um rosto de sofrer
Esmagado, inseto estúpido
Parece até um programa de TV
Com aquela gente toda fodida
Casa boiando, corpos boiando
Cheia de raiva nos olhos
Matando e morrendo no farol
E aí, pensando nisso ainda
Me volta o amigo de mijadas
Mosquito que me faz ver:
Uma bala na cabeça
Um rasgo no coração
Uma sentença de morte
Nada disso muda
A condição de sermos
Apenas insetos estúpidos

quinta-feira, 4 de março de 2010

Na média

Merda é ser uma pessoa
média

Faz de tudo um pouco e faz
pouco

Aprende mundos e sabe a fundo
nada

Pessoa sanduiche de pão com ovo
de novo
Meia mussarela, meia calabresa
de novo
Uma belíssima foda mal dada
de novo

Absolutamente comum, enfim
Na média

Uma merda

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O velho que babava sangue

Quando passei pela rua ele já tava caído
Uns três ou quatro ainda davam chutes na cabeça
Coisa tímida, com o cara lá, babando sangue
Parei pra olhar aquilo bem. Fui chegando perto
Era uma porra de um velho de uns 70 anos
Tava todo fodido, braços quebrados, sem dentes
Olho querendo escapar da órbita. Um lixo de velho
Esperei os três ou quatro acabarem com sua sede
E fiquei lá, eu e o velho fodido babando sangue
Eu disse: "oi velho, consegue me ouvir?"
"Tu tá todo fodido velho e nem polícia veio"
Olhei pra o céu, tava escurecendo rápido
Aquele filho da puta devia ter feito algo terrível
Ou devia ter feito nada. Essa é minha teoria
No mundo de hoje, fazer nada transforma você
Numa espécie de criminoso. Pelo ócio, pelo ódio
Ele devia ter feito nada, certeza. Velho de merda
O sangue que escorria da cabeça fazia uma poça
Dei um passo para trás. Saquei meu celular
Limpei o visor. Por que aquela merda de visor
ficava sempre tão engordurada, mesmo no bolso?
Disquei. A atendente soltou sua frase padrão,
misto de autoridade e conforto. Me deu raiva daquilo
Foda-se o velho babador de sangue, foda-se a atendente
Simplesmente saí andando. Rápido, olhando para os lados
Afinal, não dei porrada no velho, não o socorri. Fiz nada
E por nada, nego toma surra até virar do avesso

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Solidão

Sou só solidão

Sonho sempre
Ser Sol
Sinto sempre
Ser santo

Salto, subo
Suo
Sento, sofro
Seco


Sendo...
... sincero
Sou...
... cínico?

Sou só solidão

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Quero tudo

Tudo que quero é nada
Nada que tenho é tudo
Pois se eu gosto, cresço
Mas vezes também reduzo
E hoje, enquanto tento

E tentando assim, afundo
Reviro, volto avesso
Nessa aversão ao mundo
Que tanto me desagrada
Sangra, rói, dói fundo
Posto que tenho nada
Sendo que quero tudo

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Encare a felicidade

Encare a felicidade
Que tanto lhe falta
Como quem encara
Um peixe no aquário

É algo lindo, suave
E relaxante, mas
Com uma barreira
Impossível de passar

Depois, não chore
E encare a solidão
Como quem encara
Um leão de perto

É algo lindo, ruidoso
Perturbador e logo
Vai devastar cada
Pedaço de seu corpo

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Com meus botões

A cada novo dia gosto menos de gente
Tenho meus motivos, obviamente
Mas há tambem a parte escura
Não gosto de gente mesmo quando
Tudo é feito pra me agradar
Gente nova me oprime
Gente antiga me deprime
Então, fico com meus botões
Porque sei que não há quem
Entenda essa minha misantropia