domingo, 30 de dezembro de 2007
Sujou
Pois bem, digo a todos: no penúltimo dia deste ano, minha casa está um nojo exemplar. Meu cachorro maluco mija no quintal e entra com as patas úmidas, se lava com água por todos os cantos. Eu derrubei comida no sofá e no chão da sala. Tem cabelo por todos os lados. Fora a poeira. Fora o cheiro. Fora que meus banhos estão escassos. Juntou tudo.
O quintal fica meio limpo, porque chove vez em quando e arrasta tudo para o ralo. Então, fugindo desse meu reduto imundo, resolvi passar hoje todo o dia no quintal. Assim foi.
Fiquei meio preto por causa do Sol de trinta e poucos graus. Também estou meio lerdo, sentindo o cérebro mole como o de um recém-nascido. Me enchi de água, olhei horas para as nuvens e ouvi todas as história idiotas dos meus vizinhos.
Pra quê? Não sei ainda se fugi da sujeira ou da preguiça de limpar tudo. Mas que se foda. Agora preciso tomar um banho, tomar uma cerveja, ler um pouco de Garcia Márquez e dormir. Amanhã é segunda. Sábado que vem é dia de faxina.
sábado, 20 de outubro de 2007
Músculo
E o homem de cérebro
Eles se encontram quando dá
O homem de choro
E o homem de riso
Esses nunca se dão
Então meu irmão
Deixa tudo isso pra lá
Enche o copo de vinho
Pra transbordar a mágoa
Dança na chuva
Deixa a água lavar a alma
Mesmo assim se nada acalma
Se nada basta
Arranca o mal pela raiz
Bebe a lama em que pisou
Escarra no ventre que lambeu
Abre a janela
Que é pro vento entrar
Enterra o homem de cérebro
E se joga
E voa
E voa
Não morra
Se seu músculo bastar
?
Vida
Não me enterrem
Deixem-me ver o tempo, lento
Deixem-me apodrecendo, lento
Até que minha carne vire pó
E só
Até que meu sangue seque
E ecoe o grito:
Até que a vida nos separe!
Até-que-a-vida-nos-reúna!
Anoiteço
Me arrastaria num breu
Mas... ah, a noite é mais
Ela desencava os mortos
Enterra meus sonhos tortos
Faz da luz uma imensa treva
Deixa ver Deus até no ateu
A noite cria no silêncio um vácuo
Um nada incontável, seu apogeu
Vê que a lua, esse ser divino
De tanto cantado escureceu
Como a estrela que era brilho
E cansou de cintilar, escondeu
Tudo o que fica é uma sombra
Sobra então o ombro, só
Chora o choro, passa o tempo
Embebeda o pensamento lento
Vira um vulto vagando, vendo
Vai se desmanchando o breu
Clareia o dia, enfim
Arrasta a morte, tenta
Derruba músculos, pálpebra, ventas
Desfaz tudo o que doeu
E assim desfalece o negro
O escuro que havia arde
Ah... a noite sou eu
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Os Olhos Não Traem
O gol do artilheiro tava impedido.
O mendigo segue cantando aqui na rua.
A vizinha briga com o frouxo do marido todo santo dia.
Meu cachorro é um misto de autista e esquizofrênico.
Os olhos verdes são os mais lindos.
Eu sei que você não estava onde dizia.
O velhinho com a carroça abre meu lixo nas madrugadas em busca de sucata.
Minha merda anda mole demais.
Minha amígdala segue enorme.
O Chico tá com cara de idoso orelhudo.
Tinha um pentelho no meio do arroz.
O céu é sempre azul por aqui.
A poeira é gigante.
O lençol ficou manchado.
O piso tá sujo de novo.
E seu blog, ah... esse blog é invisível.
Tem alguém ainda olhando pra ele?
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
O Bêbado
Depois, parou de pedir. Foi saindo, aos tropeços. Mas parou. Ergueu o indicador da mão direita. Ensaiou uma meia-volta e se virou novamente para mim.
Deu dois passos. Me olhou bem - bem, ao menos tentou me olhar. Se esforçou pra manter o equilíbrio e disse: fica com Deus e vai com cuidado.
Eu, mesmo sóbrio, nunca tive tamanha bondade.
terça-feira, 26 de junho de 2007
O Grito
Paguei com a nota de dez reais, recebi meu troco em moedas e segui minha caminhada para casa. Faltavam poucos quarteirões. A vida seria aquilo? Um roteiro programado e quase sem alterações? Pensei por dois segundos e só. Nunca fui de pensar. Sou fã incondicional da inércia e da ação do tempo.
Entrei no prédio quase sem fazer barulho, nunca gostei de ser ouvido. O segurança me viu, mas tudo bem, ele sempre me via e estava lá para aquilo mesmo. Ele justificava a merda do salário dele.
Comi no apartamento quase vazio, entre a poeira do chão, a cadeira de plástico da sala e a TV cheia de ruído. Abri a janela para tomar um ar. Ninguém para ver. Que tipo de gente habitava aquele lugar? Será que todos faziam como eu, entrando às escuras, ocultando o barulho das chaves, subindo as escadas nas pontas dos pés?
O silêncio me chamava para a cama. A cama pedia um livro. E assim foi, direto para meu mundo mais agitado e aventureiro. Aquele cara, o do livro, era um bendito filho da puta. Bebia todas, comia todas. Naquela noite, lá estava ele em uma nova investida sexual. Vai, rapaz, boa sorte.
Não houve tempo nem para as preliminares. A vizinha me despertou. Sim, a vizinha muda e quase invisível. A bonitinha da porta ao lado. Enfim, vida no prédio fantasma. E vida com 'v' maiúsculo, diga-se. Saí do mundo do meu livro por causa dos gemidos nada abafados da mocinha.
Aos poucos, aquela euforia sexual toda podia ser compreendida. Ok, eu colei o ouvido na parede para ouvir melhor. Instinto jornalístico, puramente. E somente. E não é que a fantasminha gostava do negócio? "Vai, mete." "Enfia, enfia." "Mais forte, mais forte." Eu, do meu lado, comecei a torcer junto e, confesso, cheguei a repetir algumas palavras, quase gritando. Onde aquilo acabaria?
Pois acabou em grande estilo. "Isso, isso, enfia tudo no meu cu!", gritava a vizinha revelação do ano. "Assiiiiiiiiiiiiiiiim..." A vida é injusta: eu jantando salada de pimentão com pão e alguém jantando a minha vizinha. "Bom apetite, caralho!"
Tive então a grande idéia. Para que deixar tudo calmo se é possível causar constrangimento? Me postei na sala, liguei a TV cheia de ruído, sentei na cadeira de plástico e esperei. Com a porta para a rua aberta. Realmente sou um gênio. Não perderia o casal saindo por nada.
Provavelmenete me olhariam, dariam um 'boa noite' sem jeito e iriam. Bastava. Sou um gênio.
E também sou impaciente. Foram duas horas de uma espera longa e angustiante. Eu já cochilava quando ouvi a porta ao lado abrir. Me ajeitei na cadeira, fingi naturalidade e, óbvio, fiquei olhando para o corredor. Primeiro saiu uma vizinha bonitinha. Vestia uma camiseta, um short azul e parecia desconfiada, a arrombada. Me olhou de relance. Não disse uma palavra. Cadê o puto comedor de cu?
A moça parou no corredor e deu passagem para seu par. Seu par, literalmente. O comedor de cu era, na verdade, uma comedora de cu. Toda sorridente, vejo outra vizinha, a do apartamento de baixo, descer as escadas sorrateira, ainda com aquele cabelo úmido de poodle.
A porta do lado fechou. Eu sacudi a cabeça, perplexo. Essa merda seria um sonho? Não era. Fiquei paralisado na cadeira de plástico por mais uma hora. Quer dizer que eu comia pimentão e a vizinha de baixo comia o cu da vizinha do lado? Uau, o prédio não era fantasma afinal. Mas assustava.
Fui ao banheiro, tomei um ducha, escovei os dentes e voltei ao meu quarto. Só me restava
dormir. O silêncio, senhor de quase todas as horas, estava lá novamente. Mas eu tinha algo a fazer. Levantei da cama, fiz uma pose ninja e bati os pés no chão com força, repetidas vezes. E esmurrei a parede da vizinha do lado como se fosse um fã do Mike Tyson, repetidas vezes. Ambas tinham de estar acordadas agora.
Parei, contei até cinco e gritei em alto e bom som: "Vão tomar no meio dos seus cus!" Ninguém respondeu. Eu dormi como um anjo. E nunca mais ouvi uma metida naquele prédio.
terça-feira, 19 de junho de 2007
Arrasto
No fundo sou casto
Mas gasto
Mais gasto
Um dia me acho
Então um escracho
Quão baixo
Tão baixo
No fim terei rumo
Reto no prumo
Não sumo
Nunca sumo
Me arrasssssssssssssssssssssssto
Te arrassssssssssssssssssssssssto
Enquanto isso
Um lapso
Um rasgo
Todos ao caralho
segunda-feira, 11 de junho de 2007
Intran...?
_Seu guarda, desculpe, o senhor deveria estar prendendo bandidos. Eu só tô comendo pizza...
_É, eu sei, meu filho...
_E a senhora, cara vizinha, conhece a palavra intransigência?
_Intran...?
_I-n-t-r-a-n-s-i-g-ê-n-c-i-a.
_Você quer impressionar com esse papinho de advogado...
_É, advogado... Bom, vou entrar e comer mais pizza. Ela não fala minha língua, seu guarda...
_Eles estão numa festa, todos alcoolizados...
_Na minha casa eu bebo quando, quanto e o que eu quiser. Seu guarda, deixa eu falar no seu ouvido: ela vai te chamar quando eu estiver trepando, ok? Já anota o endereço que o senhor voltará sempre...
_...
_Você ri, não é? Adeus...
Entrei, fechei a porra do portão, voltei à pizza e ao vinho. Os amigos foram embora, obviamente. O DVD encheu o saco, obviamente. A vizinha seguiu no Fantástico ou algo fantástico do tipo. Enchi a taça e resolvi ser um bom menino: desliguei a TV. Mas toquei violão até as 3 horas, cantando alto para os males espantar.
quinta-feira, 7 de junho de 2007
Criança em Mim
Era você, na espera
De repente, éramos nós
Bailando
Livres
Sussurando naquela rua
Era eu, não fui mais
Era você, já não era
De repente, éramos nós
Sorrindo
Lindos
Uivando para nossas luas
Agora, o que somos?
Deixa-me ser seu
Deixa-me viver aí
Faz de mim esse ser
Pronto
Pois sendo seu
Sou mais eu
E, sendo seu
Eu...
Posso ser quem sempre quis
Quis assim!
Entregue
Criança
Feliz
E agora, que somos
Deixa de sofrer
Deixa eu te viver
Morre enfim o padecer
Ponto
Pois sendo assim
Serei mais seu
E, sendo minha
Nós...
Já não há querer que diz
Você quis assim!
Sossega
Criança
Em mim
Há
As letras congelaram
A mente descansou
Agora, já não mais
Tudo ferve, tudo ferve
Há um inferno saboroso
domingo, 13 de maio de 2007
O Pouco Que Sobrou*
Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim
Por onde eu devo ir?
A vida vai seguir
Ninguém vai reparar
Aqui neste lugar
Eu acho que acabou
Mas vou cantar
Pra não cair
Fingindo ser alguém
Que vive assim de bem
Eu não sei por onde foi
Só resta eu me entregar
Cansei de procurar
O pouco que sobrou
Eu tinha algum amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia
Manda essa cavalaria
Que hoje a fé
Me abandonou
(*especialmente, por hoje, um texto de outro)
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Basta/Carta
Lá longe, querendo ser distante
Mas, no fundo, sou eu perto
No fundo, somos nós juntos
Ou que sentido haveria?
Que sentido há?
Há o sentido de mudar
Há? Basta acreditar
Não. Basta querer
E deixar de temer
E se deixar levar
Ou o que resta? Ficar
Eu sempre baixei a cabeça
Era isso, medo de ser você
Mas é. Graças... é!
Cadê você, meu bem?
Olha minha montanha
Deixa eu olhar seu mar
Ninguém escolhe ninguém
Escolhe. Deixa de bobeira
Você escolheu a mim
Seus amigos sempre serão
Seus amigos, e assim
Serei seu, enfim
--
"São duas da manhã
Fecho meus olhos e não durmo
Fecho meus olhos e, virou rotina,
Vejo apenas você
Vejo seus olhos
Os olhos mais lindos, imensidão
Vejo seu sorriso, amplidão
Vejo sua timidez, meu porto
Vejo seu silêncio, meu torpor
Vejo esse invisível que faz
De você, indizível
A pessoa que tira meu sono
E me enche de vida
Se eu fecho meus olhos
E vejo tudo isso,
Pra que dormir?
Pra que trocar
O sonho pelo sono?
Essa não deveria ser
Uma carta tola,
Cheia de lugar-comum
Mas será. E é
Esse sentimento me revira
Tem tradução impossível
Tem pouca explicação
Mas será. E é
Gosto de você como quem
Encerra uma busca infinita
Como quem finaliza
Uma luta já perdida
Como quem celebra
O fato de você me ver
Quer saber: não dormirei
Acordado, sigo em frente
Sonhando, os meus dias
Já pertencem a você
Lua cheia, estrelada
Amanhecer e poente
Me mostro
Me dôo
Me vou
Pra que você nunca fuja de mim"
sábado, 5 de maio de 2007
Minha
Se eu vivo de luz
Por que você deduz
Que o que reluz
Não me cobra?
Se eu choro de dia
E à noite, feliz
Por que você diz
Que o que eu fiz
Não seguiria?
E por que você me habita?
E por que você hesita?
Porque sua vida, minha
Não é só sua, minha
Sua vida ainda cresce
Cresce, mas engatinha
segunda-feira, 30 de abril de 2007
Pronto
Pleno, inteiro
Poeta, primeiro
Morar em teu porto
E acordar sonhando
Viver em delírios
Crescer em teus cílios
Te olhando de perto
Silenciosamente
Continuamente
Porque estou pronto
E ponto
Passionalidade
A casa foi inundada, submersa
Os móveis ficaram perdidos
Ninguém ousou se aproximar
O cachorro desistiu de latir
A luz entrou em curto e apagou
Até a chuva cessou, por piedade
Jamais corei assim
Na frente da tela, na espera
O riso ficou abafado, preso
Tive medo de me aproximar
O vigia olhou desconfiado
O elevador subiu, arrastando-se
A água acabou, pela sede insaciável
E entre o corado e o chorado
Entre o certo e o incerto
Houve o quê?
Sequer tempo houve
(Me ouve...)
Houve a quebra abrupta
A pontada aguda
O desejo de escolher de pronto
Pronto: está feito
(Me ouve...)
Vai-se o novo, sem efeito
Vai-se o novo, quase inteiro
Quase inteiro
Ah, lindo jeito racional
(Me ouve...)
Vê-se que o opção, na verdade
Foi nada mais que um arroubo
De pura passionalidade
sábado, 21 de abril de 2007
Encanto
A todos os lugares
Mesmo que seja proibido
Mesmo que seja tarde
Ainda que os dias voem
Ainda que as horas passem
Você passa
Eu descompasso
Você anda
Eu desando
Você se move
Eu congelo
Você é fogo
Eu só queimo
Você é o colo
Que eu quero
Que eu sonho
Que eu venero
E haverá canto
Para o sonhar
Enfim virar
Encanto
sábado, 31 de março de 2007
Gota
Testa
Passa pelo rosto
Gosto
Rasga a boca
Pouca
Corre o peito
Leito
Foge do ventre
Dormente
Dor latente
Pungente
Urgente
Pela perna
Perde
Deita o dedo
Medo
E vai ao chão
Pavor
Só uma gota
Esgota
Só suor
É só suor
Mas soa
És gota
E só
terça-feira, 27 de março de 2007
Sou
Sou raso
Um rasgo no tempo
Um lapso das horas
Caminho torto
Falo pouco
Se é pra me descobrir
Tem de olhar de perto
Tem de olhar no fundo
Não tenho trocado
Meu sonho é em vão
No fundo
Sou não
No raso
Sou são
terça-feira, 20 de março de 2007
Meu caminho
Que o que houve, ouça pra existência
Que o que pensou, amadureça
Pois na vida não há o que não seja
Sendo o ser nosso querer, mereça
Desejo, naturalmente, que você se case
Pois não há o que separe os pares
Não há o que divida os lares
Sendo o ser sua morada, ampare
Vindo a dor, que seus ombros, parem
E nunca chore, nunca duvide
Nunca pense que a dor
Deixa um convite
Pra ir morar contigo
Eu moro contigo
Eu vivo e consigo
Eu vejo que o natural
E o cego
Caminham juntos
E vêem, sozinhos
Que nada é inimigo
Que o novo é o antigo
Cantinho
No cantinho eu vivo
Eu caminho meu caminho
Livre
Fidel vive
Quem me inibe
Nem tu, cretina
Nem eu, rotina
Pra quem vive
Nada inibe
Cuba libre
terça-feira, 13 de março de 2007
Há
Quando meu gosto é ácido
Ninguém goza do meu gesto
Quando meu gesto é áspero
E ai de quem tentar querer o meu querer
Porque o que eu tenho é ácido
Mas há quem me queira, há quem me ame
Há quem reclame de não poder me querer
E ainda que um dia dure uma eternidade
E que a solidão acorde na madrugada
E siga meus passos por todos os cantos
Há de haver quem goste do meu gosto
Mesmo ácido
Mesmo áspero
Mesmo ácido
Mesmo sendo assim do jeito que for
Seja de horror
Seja de dor
Seja sem cor
Mas há quem me quererá, quem amará
Sem reclamar e podendo querer
Simplesmente gostando
Do gosto de me ter
segunda-feira, 5 de março de 2007
No ar
Pois é hoje que ele vai me ajudar
Abrirá seus olhos, sua mente
Bem ele, ser oponente
Encerrará o vazio
E agora: já sente
Sente-se
Sinta
Sente-se
E agora: presente
O começo do meu rio
Corrente, água quente
Pulso pra que você me reine
Hoje tem início nosso desaguar
Pois sinto algo forte que há no ar
Eu espero
Eu espero
Acordo para andar
E te levo
Sento para almoçar
E te janto
Até esqueço de parar
E não paro
Se demora pra te conquistar
Eu espero
A demora para eu estar
No seu tempo
É o que leva para ficarmos
Inteiros
sexta-feira, 2 de março de 2007
Vodu
Tem alguém aí brincando de vodu comigo?
Sinto meus olhos pesados e tombando
Tem alguém aí pensando em me apagar?
A luz do norte não indica a morte
A sombra do leste não reflete a peste
Para garantir a paz, comprei um 38
E doses exageradas de soníferos
Click. Glub. Boa noite
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Liberto
E tu me prendes, por favor
Tu me absorves, inteiro
Pois era fim do que era antes
E é início do que é livre
Liberto
Infinito em ti e em mim
Nosso mundo em nós
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Impublicável
Só a que diz pouco
Só onde fiz nada
O muito eu guardo
O muito aguarda
Não lerás uma linha aqui
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
Grito
Tudo que antes fora segredo
Vira esse enorme mar de secura
Causa agora essa imensa loucura
Faz do oco esse peito cheio
Chega a tremer, beira o desespero
Mas sacode de alegria. E grita
E grita
E grita
E como grita!
Da janela minhas flores dançam
Da sacada minha mente avança
Do fundo da alma... chamo-me esperança
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
Incondicional
Se houvesse lógica, você veria que minha entrega é incondicional, e me aceitaria.
Mas não há mágica ou lógica no amor. Nele, o certo perde o sentido. O erro vira acerto.
O pulsar vale mais que o pensar. A fase é essa: eu pulso, você pensa.
E se eu parar pra pensar? E se você resolver não pulsar? Não há mágica.
O mundo continuará a girar. Eu seguirei sendo seu guia. Como sempre. Desde sempre. Você vendo ou não.
Mas a mágica pode simplesmente virar lógica. Aí, como num quebra-cabeça, cada peça se encaixará. E fim. Começo.
Oração de coração
Deito a mão no teu colo sagrado
Seco a dor e teu pranto
Calado
Entrego-te esta oração
Ilumino seu dia, ensolarado
Guio o passo e teu vôo
Alado
Cuido para que o mar
Outrora bravio, agitado
Vire teu remanso
Cubra-te de paz
Faça seu milagre salgado
Entrego-te esta oração
Vago por seu mundo adorado
Curo a ferida e tua chaga
Passada
Entrego-te esta oração
A luz de um clarão inesperado
Vento forte no teu corpo
Morada
Cuido para que o céu
Outrora negro e carregado
Faça tua alma levitar
Ergua-te ao infinito
Faça de ti anjo imaculado
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
Como o céu
Como a nuvem que se abre para o avião passar
Como a flor que se aviva com a chegada do verão
Como o mel e o zangão
A onda e a areia
A tribo e a aldeia
O arroz e o feijão
Como o fogo e o vulcão
A rima e a poesia
O amor e a euforia
O sagrado e a oração
Você é meu complemento
Minha fome, meu alimento
Minha transfiguração
terça-feira, 23 de janeiro de 2007
Desta vez
Do nada, como sempre
Sem lenço, sem talvez
Tomara que desta vez
Não misture minhas vestes
Não revire meus acertos
Não desvire o que é certo
Tomara que desta vez
Eis que você aparece
Assim toda, oi, querido
Assim, tenho novidades
Tomara que desta vez
Você venha bem sozinha
Esteja toda atrevida
Venha pronta para mim
Tomara que desta vez
Que seja a última
E a primeira
A inaugural
A derradeira
O ponto final
E a partida
Mas que nada fique parado
Nem o sujo, nem o imaculado
Nem o limpo, nem o rasgado
Nem o próximo, nem o acabado
Que se mova o que era algo
Que se viva o que era farto
Que se morra o que era salvo
Tomara que desta vez
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
A sós
Te visto
Te miro
Te finjo
De minha
Te risco
Te pisco
Te brinco
Te finjo
De nua
Minha força de viver
Minha fome de comer
Minha vida de viver
Vida de ser com você
Agora eu deito
e durmo
e sonho
e ronco
e sonho
e vivo
só pensando em te ter por perto
Agora eu leio,
aprendo,
releio,
rolo,
revejo
e vejo
que só há você por perto
Sonho de ser eu
Dia de sermos nós
Vida que virou
Assim
Nunca mais a sós
sábado, 6 de janeiro de 2007
Eu sonho
Abraça meu braço, eu te mostro como faço
Traz seu olho pra brincar de ficar sério
Despe meus mistérios, muda meus critérios
Entra por aquela porta, nossa morada
Sorri sua risada de mar agitado, minha onda
Deita nessa teia, me levanta, me levanta
Traz seu olho pra mirar meu ser inteiro
Despe meus critérios, cria seus mistérios
Entra porque eu me importo, eu sonho
Acaricia meus cabelos
Dá a mão pra eu apertar
Acaricia meus ventos
Dá a mão pra eu te levar
Se enrola em meus dedos
Abre a boca quando beijo
Se enrola em meus jeitos
Fecha a boca com desejo
Quem diria que assim
Assim meio sem querer
Pouco antes de amanhecer
Nova vida iria nascer...